Postagens

Mostrando postagens de novembro, 2010
Soneto de Brincadeira (Víctor Lemes) Sete, oito, nove, dez! Aí vou eu te encontrar, Que é a minha vez... Onde é que você foi parar? Procurei-lhe no jardim, Junto às flores, não estava lá. Procurei-lhe nas sinfonias de Bach, Escutei-as todas até o fim... Você se esconde muito bem, Já procurei até nos quadros do saguão, Nenhum deles emana a beleza que tem. Ora, segui teu perfume, segui tua voz, Segui a luz dos seus olhos... Será que está dentro do meu coração?
Sem título 20 (Víctor Lemes) E eles dizem, ao apontar o dedo: "- Mas, e se o mundo acabasse hoje?!" Se o mundo acabasse hoje não faria muita diferença, seria redundante. O mundo já acabou dentro de cada um que se alimenta do medo.
Soneto ao Abandonado (Víctor Lemes) Deitado num quarto escuro. Passando fome, frio e sono. Tremendo com meu corpo cheio de pêlos. Sofrendo, aqui esperando por amigos. Comendo por comer, sem fome. Bebendo por beber, sem sede. Chorando, por não ter amor. Uivando, por não ter a quem beijar. Encostado no portão, Esperando algo que venha Me fazer um carinho, pois sinto. Não entendo o mundo, Fingem que aqui não penso, E por ser cachorro, sou objeto.
Uma folha navegante (Víctor Lemes) Sou uma folha navegante. Talvez seja uma folha pirata, Um folha sem graça. Já fui folha seca, Mas graças à Primavera, Já sou folha nova. Estou à procura De não-sei-o-quê. Viajo nos ventos Por todos os lados. Sou uma folha nova, Um dia serei velha. Mas, quanto mais velha, Mais seca é a folha. E quanto mais seca, Mais leve ela se torna. Mais leve, mais apta Ao vento ser levada.
Hora de me deixar para trás, e ir me reencontrar. (Víctor Lemes)

Porque hoje é sábado.

Imagem
Soneto à Moça do Olhar Vazio (Víctor Lemes) Conheci uma moça De olhar forte Porém distante, A olhar uma poça. A voz da chuva Pela noite ecoava, As gotas enchiam a poça, Esvaziavam os olhos da moça. Apoiada a mão Em seu queixo encharcado, Não eras, mas sentias tosca. - Deixa de ser Não! Repara como poças criam riacho E levanta-te, linda moça, tens força!
Soneto ao Ansioso (Víctor Lemes) Em campos verdes Adormece um garoto. Usa poucas vestes, Possui corpo feito ouro. Corre, salta, nada, Saltita, pula, se engraça. Gosta de alinhar o espírito, Idolatra o deus Infinito. Tem suas dúvidas, Eu tenho as minhas. Compartilhamos ideais. Lutamos sem ter lâminas, Anseamos um começo sem fim. Buscamos verdades demais.
Soneto da Lua (Víctor Lemes) Pedi a Lua que te enviasse meus beijos, Mas ela disse que perdeu teu endereço. Lua teimosa, quanto te custas, Sua preguiçosa! Achas que me engana? Levantei-me nervoso, enraivecido. Se pudesse voaria até o infinito, Lhe daria umas boas palmadas Para parar de ser tão mimada! Agora se esconde Por detrás de nuvens, Tens medo do que te aguardas? Mostra-me tua face, Oh Lua, que encanta jovens, Por que não queres quem te amas?
Soneto da Chuva (Víctor Lemes) O som da chuva. Eis o único som Que me serve feito luva, Que faz do mundo um lugar bom. O tremor dos trovões. Propagam as dores De longínquos amores, De partidos corações. Quanta leveza Carrega estas lágrimas, Que se derramam ao chão. Levam a tristeza Para outros planetas, Para longe do meu coração.
Mesmo que o céu (Víctor Lemes) Amanhã vou acordar feliz da vida, Mesmo que o céu pareça todo cinza. Hoje, as nuvens ocultaram minhas estrelas, Ontem, cerraram tuas janelas.
Sem título 19 (Víctor Lemes) Direita, esquerda, direita, esquerda; Assim é meu caminhar. Carregando um lampião de azeite, Estou assim, a te procurar.
Da morte (Víctor Lemes) Da morte em si não tenho medo. Meu medo, em relação à ela, são três: Morrer sem conseguir me perdoar; Morrer sem ter provado o teu amar; Morrer sem ter aprendido a viver sem você.
Sem título 18 (Víctor Lemes) Hoje ainda é quinta-feira. São 23 horas marcadas no relógio. Amanhã ainda será sexta-feira. Por que, agora, demora tanto Pra chegar os finais de semana?

Estou sonhando!

(Víctor Lemes) Um dia eu acordei envolvido por flores, Despertei como um feto em ventre de mãe: Encolhido, agarrado às próprias pernas, Como dizem por aí, como as conchas. No céu as nuvens escreviam palavras, Pareciam que era como versos Soltos, vagando num espaço sem rumo, Ao longe podia ouvir-se os cantos. A voz forte, me fez lembrar certa pessoa, Talvez a conhecesse, mas não conseguia Me lembrar de seu rosto, ou de seu tom. Quando parei para refletir, me recordei Que só havia procurado luz no alto, E quando mirei os olhos ao chão, que surpresa... * Estava em uma praia! Que linda era sua areia. Não era dourada, nem tinha cor de areia, Mais parecia farelo de cristais brancos, Ou transparentes. Lembrei-me de teu olhar. Refletido nas águas daquele oceano de prata, Bem a minha frente, pude ver um rosto lindo, Leve, belo. De uma garota que me foi lembrada, Já a tivera conhecido, em algum lugar outro. E me bateu uma saudade imensa! Senti aquele fogo q
Sem título 17 (Víctor Lemes) Chama-me criatividade , Chamo-a simplicidade , Conheço ansiedade , Sou filho da sensibilidade . Qual é sua idade?
Sem título 16 (Víctor Lemes) Quando olho, da varanda, o vasto horizonte, Admiro-a mesmo que tão distante. E hoje, as montanhas de nuvens cobrem os montes, Protegem-na pois é tão importante.

Minha oração

(Víctor Lemes) Cansei. Cansei dessa sensação de vazio, esse ar frio que me percorre os pulmões, essa secura na boca, essa tristeza amarga no meu coração. Cansei de não me amar o suficiente, de não me dar valor suficiente. Cansei de não chorar, de sofrer pra respirar, de me machucar, de me arranhar. Cansei de esperar o mundo se ajeitar, cansei de te esperar mudar. Cansei de não me perdoar. Quero me perdoar, deus. Cansei de tremer ao chorar, cansei de forçar chorar, cansei da minha falta de estar. Quero me perdoar, deus. Cansei fingir sorrir, cansei de aguentar calado. Cansei dessa minha vida perdida dentro de mim, cansei de fazer minha mãe triste por me ver triste. Cansei de não ser ninguém, de me achar insignificante. Cansei de me odiar, cansei de frustrações, estou cansado. Quero me perdoar, deus. Cansei de dormir demais, cansei de mentir demais quando é preciso ser sincero. Cansei de pessoas falsas, cansei de amigos que nunca tive, cansei de ilusões da vida. Cansei de lembranças r

Suas iniciais são iguais

(Víctor Lemes) Estava eu sentado num dos galhos mais altos. Quando uma menina sentou-se próximo à árvore. Encostou suas costas no tronco áspero, e abriu um livro. Curioso que sou, fui descendo galho a galho, Sem chamar muita atenção. Cheguei bem próximo à bela menina, De cabelos na altura dos ombros, Olhar forte, concentrada em sua leitura. Me inclinei um pouco mais, e assim, Pude ler uma parcela de uma linha, Que então dizia: "Vivo de coincidências, Vivo de linhas que incidem uma na outra E se cruzam"... Não pude ler o resto, Pois a garota percebera minha presença, E num movimento rápido ergueu sua cabeça! Assustei-me, dei um pulo pra trás. Chacoalhei uma porção de galhos, E folhas pousaram em seus lindos cabelos. Ela sorriu, encantada. Ergueu o livro em minha direção, E leu em voz alta, como se quisesse que eu a ouvisse: "Mas tenho um milagre, sim. O milagre das folhas. Estou andando pela rua E do vento me cai uma folha exatament

Estou voando!

(Víctor Lemes) Quando cheguei em casa, larguei minha bolsa em cima do sofá, e subi correndo até meu quarto. Lá, abri as portas do armário, vesti minha roupa especial, troquei os óculos. Desci feito bala as escadas, tropecei em mim mesmo, por pouco caí, e me lembrei de rir. Saltitando nos corredores cheguei à cozinha, bebi um copo d'água. Voltei pelo mesmo corredor, em direção à sala. Sentei-me no mesmo sofá da bolsa, calcei as sandálias. Abri a porta, e com uma palma da mão aberta por sobre os olhos, observei o céu. O Sol já estava se deitando no horizonte, o vento estava bom o bastante pra bagunçar meus cabelos. Sorri, enchi meu peito de ar fresco. Tornei-me um com Ele. Caminhei até a garagem, tirei o lençol que cobria minha espaço-nave. Abri o portão de casa, empurrei-a até lá fora. Sentei-me na poltrona principal. Imaginei o motor roncando, as turbinas girando. E assim foi. Me situei em cima de minha casa, e por nem um segundo, lá eu estava. Voava! Atravessava nuvens ve
Paineiras (Víctor Lemes) Voltando do trabalho embarquei em um ônibus, o de sempre. Cumprimentei o motorista, já velho conhecido meu, paguei minha passagem, e fui me sentar em uma das poltronas da janela. Prefiro as das janelas, pois as dos corredor são barulhentas demais. Você fica exposto a qualquer fofoca e conversa do ônibus. Você ouve tudo e a todos. Porém, se sentar nas da janela, seu olhar fixa-se apenas no caminho, e seus sonhos viajam no imenso céu azul. Num piscar de olhos, chega em teu ponto final. Liguei meu som, encostei a cabeça na poltrona, e tentei relaxar. O motorista já havia dado a partida, e acelerado um pouco, quando de repente o freio foi puxado, e levei um tranco que despertei. Uma mãe e seus três filhos gostariam de embarcar, haviam corrido contra o tempo só para tentarem pegá-lo. Enquanto a mãe pagava as três passagens, porque um dos filhos ainda era bebê, os outros dois correram procurando as melhores poltronas. Sua mãe sentou-se no par de poltronas ao meu l

Pronomes Pessoais

(Víctor Lemes) Me afogo em pensamentos e em palavras pronunciadas em vão. Me agarro em paredes de pedras escorregadias de verão. Me entrego a palavras que, talvez, nem sejam verdadeiras. Me elevo num patamar de bondade, finjo ter coragem. Te chamo já sem voz pois a covardia me impede ser eu. Te acaricio a pele com doçura pois tu és minha ficção mais real. Te trago comigo aqui dentro mesmo que não saibas disso. Te imagino bem onde estiveres mesmo que um raio parta-nos as raízes. Nos levo às alturas da criação porque merecemos tamanha condição. Nos abraçamos feito crianças de colo porque não queremos que isto acabe logo. Nos congratulamos frente a frente já que estamos vivos, e felizes. Nos amamos olhos nos olhos já que somos respectivos, e semelhantes.

Lembranças esquecidas

(Víctor Lemes) Sentado aqui neste terraço, ouço os bem-te-vis cantarem ao relento. Ouço o som que as copas das árvores fazem ao abraçarem as rajadas de vento. Ouço o trotar das formigas que trabalham sem receber o décimo e terceiro. Neste degrau de madeira antiga vejo-a brincar no gramado. Dizem por algures que para ser anjo é preciso um par de asas de penas brancas e uma auréola sobre a cabeça. Que é preciso brotar do canto da parede com uma luz dourada às costas. E que precisam vir do céu. A que conheci não tinha asas, mas voava. Não tinha auréola, mas cabelos reluzentes. Pelo menos veio do céu. Aquele sorriso perfeito, a abrir os braços, deitada feito criança, daquelas que na grama se jogam e estateladas ficam, sem se importar com nada.  Tem vezes que me vejo abraçar-me a ela, e posso sentir o perfume dos incensos de rosas amarelas que vem da sala. Lágrimas teimam em sair de casa escondidas. Eu sabia desde o começo, mas preferi fingir esquecer. Daqueles dias só pude me lem

Reconhecimento

(Víctor Lemes) Tenho pensado em tanto pra lhe falar, Que de tanto pensar tudo foi pr'algum lugar. Há dias em que meus dias não fazem sentido algum, Há dias que me sinto um minúsculo número um, Incapaz de ser algo que preste, Alguém de valor pr'o mundo. Talvez você não saiba, Mas já O perguntei diversas vezes O quê eu vim fazer aqui, ou Derramei algumas lágrimas Por debaixo do edredom, Perguntava-me baixinho Qual era o meu dom. Hoje, eu ainda sinto um vazio dentro de mim, Devido àquele que não soube me preencher De amor, como você fez. Hoje, eu ainda choro por dentro, ainda rego Meu jardim de outono, E sinto a dor que a água traz Quando atravessa minhas rachaduras. Me deixei atrasar por anos, é verdade. Mas ainda assim, foi você quem me ajudou a levantar. Se não fosse você, eu não seria nem um terço do que hoje sou. Com toda certeza eu seria apenas mais um na multidão. Nada mais tenho a acrescentar, Você já me conheceu antes mesmo De eu ter tido

Dialética

(Vinícius de Moraes) É claro que a vida é boa E a alegria, a única indizível emoção É claro que te acho linda Em ti bendigo o amor das coisas simples É claro que te amo E tenho tudo para ser feliz Mas acontece que eu sou triste...