Pingos de inverno

(Víctor Lemes)

Olhar os ladrilhos do chão, as cores laranja e vinho. Os livros, os passos. Às vezes me pego a pensar sobre coisas, que preferia nem lembrar. E são nesses momentos, que pisco os olhos, e as lágrimas teimam em sair. E é debaixo dos pingos de inverno, que choro. São os dias em que eu não tomo zinco. E enquanto é de noite, e tudo é frio, e o vento atravessa minha pele, que eu a vejo. Mas parece longe. É linda, é tímida.
E eu dançava. Ah... Como eu dançava. Dançava Tina Turner. Mas eu cresci. E adquiri a vergonha com o passar dos anos. Vergonha de dançar... Pode? Eu já escrevi pr’uma Heloísa, a doze anos atrás. E entreguei a carta simples, impressa em folha A4, cheio de imagens de Clip-Art. Não sei se ela leu. Mas então cresci e demorei pra re-aprender o quão belo é poder dizer àquela o quanto você a quer bem.
E eu era rodeado de amigos, de arteiros, de capetas. Mas cresci. E aprendi que eles foram e não voltaram mais. Não até hoje. E por mais que eu os tenha no meu coração e lembrança, não é a mesma coisa. Eu queria quanto mais, melhor. Quanto mais ao meu redor me ajudando, eu os ajudando, mutuamente, como dois namorados.
Namorar... Já pensei bastante sobre esse verbo. Será que ela vai me aceitar assim? O amor é uma coisa tão simples, mas tão simples que se torna complicado pensar sobre. Só pra constatar. Não tenho medo da morte. Da morte em si. Mas sim, de morrer sem ter aprendido a amar. Às vezes, eu me pego a discutir com o Chefe. Eu não preciso lhe pedir, ele já o sabe. Já sabe!
Saber o que eu mais quero nessa vida. Saber o que me deixa sem graça, sem o que dizer na falta de assunto, sem saber o que falar, sem saber se devo falar ou não... Se for muito cedo, se ela vai pensar que eu não sinto nada, se... Se desse certo.
E eu faço dezenove no domingo. Não pensava que o tempo passasse tão rápido, achava que tivesse tempo. Mas amanhã já é dois mil e nove, e a você, a que meus olhos não perseguem há dois dias, terá ido embora. Terá desaparecido do meu horizonte.
E eu queria ter coragem, pra não chorar depois.
Eme sempre me chamou a atenção.

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