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Mostrando postagens de setembro, 2009
A estrofe (Víctor Lemes) Os dentes alinhados, Quase que em pura perfeição, Estampada naquele rosto A metáfora da solidão. E as rimas que raramente faço São, para minhas idéias, cansaço.
O tolo (Víctor Lemes) Quando do vestido Ela servir-se Que brote nos outros o sorriso, Que vejam a luz dele. Do perfume, Que possa eu lembrar O tempo paira no ar E no coração só a vontade. As pessoas se vão Enquanto os abraços ficam, Queria que fosse o contrário Só para sempre tê-la ao lado. Ingênuo, pobre coração ingênuo Teima em querer abraçá-la Sem entrelaçar almas Mais tarde, então, há de chorar seco. Quando, ou se, Aquele dia chegar Qual será meu próximo movimento? Quais palavras hei de dizer-lhe? Tolice, tolice pensar nele: neste futuro que pouco fala, Que me faz sentir saudade Todas as noites quando vai embora...
Carpe omnium (Víctor Lemes) Deus est solus scrutator cordium. Dubitando ad veritatem parvenimus. Ex aspectu nascitur amor, Ex abundanctia enim cordis os loquitur.
As crianças (Víctor Lemes) E eu vi no fundo daqueles olhos As tantas galáxias Que lá fora existem. No fundo, aquelas crianças De poucos onze anos, Eram e são já para mim preciosas. Eu sei que já parti Daqui, voei deitado em minha cama, Cavalguei pelos mais estranhos sonhos. E, neste de ontem Vi-a chorar, como quem em desespero está. Escrevo hoje, e agora sinto, O medo e a frustração que um dia tinha em mim. A ausência da luz, que ilumina as noites. A presença da sombra, que só me traz a saudade.
Rimães (Víctor Lemes) Não interessa o quão longe Ela possa estar de mim, Nem quanto demore O soar de suas palavras sem fim. Tem dias, admito, Que fico assim perdido Em pensamentos longínquos Sobre aqueles futuros caminhos. Com ela, que me ensinou a andar, Vi o céu sempre estrelado. Eles sempre lá em cima a voar, Nós aqui em baixo, atentos ao combinado. Vê, não é assim que se deve fazer, É deste jeito que se faz. Olhe, reflita, e há de ouvir O som do silêncio, talvez até lhe faça rir. Eu amei, sem saber amar. Não digo que não sei o que é amor, Pois eu sei que ela sabe voar, Tão leve quanto o vento chacoalha a flor. Saber que o vento, e as luzes Sempre estarão por aqui é tão bom. Saber que os anjos, e os melquizedeques Nos abençoam por meio do silencioso som. Pra dizer que te amo muito, Às vezes prefiro o silêncio, eis meu defeito. Não podes dizer que todos os poemas que escrevo, Mãe, são pr'aquela que pouco conheço... Amo você, Amo-te, Te amo
O cais (Víctor Lemes) Sem saber que vivemos, juntos sorrimos Em um mundo redondo e chato Os dias passam rápido, e agradeço, Pois, acompanhada, a noite logo chega A luz, personificada nela, tudo ilumina Minha noite que era sem graça e fria demais, Já não sobra um pingo de sombra: coração no cais.
À beira (Víctor Lemes) À luz do Sol, me incomodava Quando, às noites, só via nuvens Em minha cabeça somente ela, Na boca, meus céus e meus dentes.
Os nós (Víctor Lemes) No sonho, chegara atrasado Lá estava ela, muito bem acompanhada Quando passei por ela, não sorriu Seus olhos disseram-me que sorriu. Nas repetições de palavras dessa vida Percebe-se que meu vocabulário é restrito Nas folhas secas de outono caídas Perante os troncos secos e as toras. A rima que ao coração aflige Minha alma jamais se enlouquece. Pensar demais nas palavras E, na cabeça, afrouxar as amarras... Por entre florestas cerradas Havia caminhado, perdido e sozinho Até que por sacrifício o fogo Tudo ao redor deixasse às queimadas.
A Praça (Víctor Lemes) E aquele zumbido forte em meus ouvidos fizeram-me cair, repentina e vagarosamente, de joelhos. O impacto dos ossos com as pedras do chão, me despertaram daquela surdez passageira. Abri os olhos, ergui a cabeça em desespero: não olharia para baixo, ou então passaria a sentir toda dor daquelas veias a perder meu sangue. Olhando em direção ao céu, não vi. E pensei que minha mente pregara-me uma peça. Lancei mão de meus óculos, e percebi que nem a imagem distorcida das coisas eu via. As lágrimas acumuladas faziam arder meus olhos: estavam lavando a ferida de muitos anos. Abri a boca, em último pedido, gritei com força: - Volta pra mim! Em meus longos cabelos castanhos, senti o resultado de minha prece em desespero. Ela acabara de acariciá-los, afagara meu peito, abraçara minh' alma. E senti-me, num instante, amado. Amado por aquele ser que, em todas as direções caminha, nunca está parado; Senti o Amor da brisa. Senti o Vento.
Sem título 4 (Víctor Lemes) Enquanto os homens caminham, é comum que apenas olhem pra baixo, para o chão. Têm medo de tropeçarem naqueles que evitam.
O Caminho (Víctor Lemes) Dizem que quando encontramos Aqueles que nos fazem felizes Tentamos abraçá-los pra sempre Sem sucesso, porém, torcemos os braços. Existem essas pessoas Que a mim se abraçam, Mas logo, vão embora Sem saber pra onde vão. Tenho receio de mim mesmo, Talvez seja um daqueles Que se abraçam todo o tempo, E partem sem adeus, às vezes.
Louveira, 12 de Setembro de 2009, 20:19 h. Enquanto caminhava, percebia os movimentos apressados dos adultos, iam e vinham com sacolas enormes, falando alto umas com as outras. Pareciam não saber que caminho deviam seguir, que curva virar... Eu tinha brinquedos no meu quarto: muitas pelúcias, uma cozinha completa, o mercado sem balcões, o Pateta e o Pluto, o Júpiter e o Saturno, o Dragão e o Fênix, os prédios em constante construção-desconstrução... e, finalmente, o grid de largada mais sortido que pacotes de bolacha salgada da Panco. Quantas foram as vezes que levantei cedo demais ao sábados, só pra assistir aquelas fitas antigas. Eu só reconhecia um décimo da festa, não lembrava o gosto do bolo, nem a dor da queda naqueles ladrilhos laranjas. Ligava o rádio, punha o CD, e segundos estava lá: descalço no carpete, dançando, em frente à parede brilhante, alheio a qualquer coisa ou pessoa que estivesse me olhando da sala... Não só dançava como também tentava imitar aquela
Tudo que começa, um dia, acaba (Víctor Lemes) E, quando abri os olhos, cercado Por aquela luz branca estava Levantei o rosto e os braços ao vazio, Senti a luz que se aproximara. Senti-me abraçado por um gigante Envolto em seus braços leves Acariciou minha cabeça já sem cabelos Sussurou "ômega é o princípio" em meus ouvidos. Diante de tamanha figura e palavra De meus olhos brotaram a luz como do Sol, E como quando acendemos uma lanterna Enxerguei tudo: o fim, e o recomeço. Quando voltei em mim, Percebi a quem abraçado estava Era um gigante velho, longos cabelos, Só esboçava um largo sorriso sem-fim. Disse que nos veríamos de novo Quando assim o quisesse, Lágrimas nos olhos despediu-se Não mais voltaria a vê-lo... Quando dei por mim, estava ali Bem no meio do quintal, Rodeado de escuridão da madrugada, E sendo observado por eles... sorri.