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Mostrando postagens de junho, 2011

O Vaso

(Víctor Lemes) Descobri hoje Que estou apaixonado Por um vaso de casa. Sou um poeta-amador Que tem por amor, À primeira vista, Um vaso bege, que fica no canto. Ao calçar os tênis Sentado no sofá da sala, Sempre o olhei ali, Mas nunca o vi. Quantas vezes será Que eu olhei tanta gente, E às vi? Dizem que devo criar O elo com o Criador, Mas como fazê-lo quando Só posso olhá-lo E não vê-lo?

Sem título 28

(Víctor Lemes) Eu nem cheguei a pisar no interior de mim mesmo, e ainda há gente que se preocupa se na Lua alguém pisou. Deixa a Lua lá!

Minimal Pairs

(Víctor Lemes) As pessoas: - Fica comigo? Os poetas: - Rima comigo?

O primeiro Santo

(Víctor Lemes) Faz tempo que luto Contra mim mesmo, Por um lado me Negava a escrever-te, Por outro, o que vencera, Decidiu-se eternizar-te Em versos simples. Versificar meus pensamentos É transportar-te para perto. Tive receio, e ainda tenho, De escrever-te qualquer Gesto que seja, grafado Ou gravado, pois acho que Já me conheces o suficiente. Repetir-me-ia se te Disseste as orações subordinadas Que estão em minha cabeça, Em fila, ansiosas para Embarcar nos navios De palavras rumo ao Rio da minha vida. . . .

Um Brilho Fosco

(Víctor Lemes) A jovem que se dá o prazer de machucar o outro, enquanto na cama os corpos se roçam, à mesa os olhares não se cruzam, os lábios beijam sem paixão uns aos outros, as palavras são meras letras agrupadas e o amor já não passa de pretexto para novas histórias de filmes caríssimos. A infelicidade de estar junto com a sensação de que cada um vive em outro mundo. O sossego de quem já sabe que, para o outro, ele nada vale. D'um futuro enlace entre ambos Nascerá do ventre da dita cuja a filha mais prematura, Cujo nome não a justifica Apenas dá-lhe boas-vindas: Rotina. E a frustração de quem pode ver como é o Deus que ninguém mais Enxerga ou conhece; A angústia de quem já viu muitos Amigos que se foram, e foram Longe para algum lugar... E ela ainda está aqui, não pode ser levada daqui, Para algum lugar qualquer onde Lá não haja outra humanidade. Toda as noites eu me mato à frente da tela reluzente colorida. Sou o maior erro da cultura hum

Dardo de Deus

(Víctor Lemes) O que pensas de mim, tu que não te afogas nas fortes correntezas de vácuo que percorrem meu quarto? O que há de tanto neste quarto, Que enche e preenche os cantos secos Todos, feito água que morre pelas arestas, Ou como um tolo a escrever sem sono? A incógnita de ser feliz com pouco, De não sentir o que se sente sem as mãos, Ao lançar o dardo e errar o alvo Deus sorriu, Ao suspirar disse-me: "Olha só, não é que caiu?"