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Mostrando postagens de agosto, 2010

Sem título 15

Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está passando inutilmente! - Érico Veríssimo (Víctor Lemes) Tenho nascido todas as manhãs Com aquele desejo de acabar-me as horas, De ter em mim a saudade da risada tola, Ou de lembrar de uma brisa leve nos cabelos. Tenho perdido e renascido em mim Feito pedra que está ali no meio. Estática, não atrapalha e nem ajuda, Ninguém gasta os olhos ao passar por ela. Tenho amado demais a terra Que me serve de base enquanto pedra. Já não rio da própria desgraça, Se nem consigo ser feliz às manhãs.

Dá-nos a Paz

(Víctor Lemes) A secura dos meus lábios, As pétalas de rosas negras Igualmente secas Caem dum céu sem tons. As ruas infestadas de baratas, Tontas e mortas, vagam pelo breu. Sem saber quão longe estão, Vão se arrastando pelo chão. Migalha, fiasco, mágoa, lágrima. Tudo é uma coisa só, Quando o dia das contas chega, E o que resta vira pó. E enquanto todos tremem Diante de um possível julgamento, Os anjos dormem. Estão a sonhar conosco.

O céu

(Víctor Lemes) Se olhássemos o céu ao inverso Veríamos quão imenso é o seu mar De constelações, feito corais e algas Todas cintilantes e coloridas. Verdadeiras mágicas de uma fonte De energias sem meio ou começo, Tendo apenas o fim previsto, Idêntico para todos: o início. Velejaríamos num céu coberto de sol, Caminharíamos de mãos dadas numa nuvem, Seríamos gigantes seres alados, E nos teríamos dentro de nós mesmos... Viveríamos como se um só fôssemos, Dividiríamos a mesma cama, e o mesmo copo. E ainda assim, seríamos egoístas A ponto de eu só querer você, e você só a mim.

Barba

(Víctor Lemes) Arranquei muito de minha face, E hoje ao olhar no espelho Me vi mais claro, mais diferente. Foi como ver o reflexo E crer que não é você quem está ali. E o bloqueio de escrever ainda Está a curtir no meu interior, Por dentro acho que já abri mão. E o eu que habita em mim Só quer saber de ouvir Legião: Não vá embora! Fique um pouco mais! Ninguém sabe fazer O que você me faz! Ler Pessoa, e escrever Vinicius.

Alguém pra se levar

(Víctor Lemes) Asfalto se mistura no breu da rua, Que é distinguida apenas pelas luzes dos postes. Opacas, e claras, vão distorcendo suas imagens, E a doce flor que na guia brotara já ao seu fim chegava. O som do silêncio do sereno da grama gritava, Dizia nomes de criaturas e desertores de terras distantes, Enquanto do meu coração não se ouvia as batidas, As formigas com seus passos pesados marchavam pela noite. Vago sozinho no vazio do sono vagarosamente, Tento não acordar-me por dentro, ou despertar-me de todo. Pois o que tenho aqui comigo é só a vontade de a face beijar-te E envolvido em teus braços, ser levado às alturas de um céu dourado.

Breve

(Víctor Lemes) Não fechem mais os olhos, Nem tapem os ouvidos, Pois já estão mudos Há muito tempo.

Mar de Cristal

(Víctor Lemes) E nesse dia dos pais, Meu pai de luzes Encheu-me de paz Sem mais dias tristes. Foi num sonho qualquer, Ali debaixo do mesmo teto, Respirando o mesmo ar, Sentados no mesmo sofá. Eu seria um fardo, Um mau amado, Um ser diluído e ínfimo, Uma verdadeira pedra Em teu caminho. Aquele pai de luzes me ama, E por amar-me assim Só faz de tudo pra me dizer que sim, Sim devo deixar pra lá, Já é feliz do jeito que está, Com quem se abraça, Com o que acredita... Armo as velas de meu barco, E coloco-as lá no alto, Pro vento fazer seu trabalho E levar-me por esse mar a dentro, Sem saber para qual lado Mas sabendo que foi para o bem. Não possuo pernas de pau, Nem olho de vidro, E ainda não carreguei meu navio Com algum tesouro perdido, Mas sigo feliz assim por velejar. Hora de velejar No Mar de Cristal.

Sem título 14

Enquanto o caos segue em frente com toda a calma do mundo. - Renato Russo (Víctor Lemes) Vejo as linhas de minha mão Quando só há escuridão, Os caminhos tão traçados, Pontes quebradas por vidros quebrados. Olho o teto hoje, frustrado. E de repente acordo De um sonho distante, Onde o meu mundo é coberto Por um lençol iluminado, Bordado com estrelas de inverno, E seu movimento é constante. Havia flores na janela hoje cedo, E meu coração entardeceu-se, E o eu que tenho aqui dentro, Aquele que é tal qual morcego, Quando a noite chegara Já havia despertado. Está sereno, calmo, Repousa seus braços em meus ombros, Me beija o topo da cabeça, E me abraça sem ter braços. Mas posso senti-los ao redor de mim. Só não sei se é um querubim, Ou um serafim.