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Mostrando postagens de abril, 2010
Terra, Água e Ar (Víctor Lemes) Tenho olhado muito para o céu. Como se quisesse me encontrar Por entre aquelas nuvens diversas, Ou só ficar observando a luz da Lua. Velejando pelos sete mares Sem sair da cadeira do computador. Procurando um tesouro escondido, No mais profundo dos corações mais tristes. Voando pelos quatro ventos, Planando sob os mais altos penhascos, Sentindo o Vento sempre em meu rosto, E levando-o sempre comigo, dentro do peito. Vagando por infinitas ruas e avenidas, Sem saber por onde começar a te procurar. Só pensando se vou conseguir cumprir meu papel, E conseguir inventar deste inferno um novo céu.
Engano (Víctor Lemes) Meu amor, eu confesso Que não tendo Você ao meu lado, Me encontro indefeso. Confesso, confesso, E confesso que me apaixono Fácil, fácil é o engano, Por aquela que mau conheço. E que posso não lembrar De ti, ou de teu outro nome, Isso é bem verdade, Já que sou livre pra te amar. E você, a quem eu ignoro pensar Ou lembrar, ou tentar imaginar, Por favor, não me julgues. Aceito-te, e sei que não me queres.
Encontrei esse papelzinho amassado na lata onde guardo as canetas. Lembro-me de tê-lo escrito no Simpósio de Letras, do ano passado. Mas não me recordo de tê-la esquecido... Meias grossas (Víctor Lemes) A rasteirinha treme no pé que sua, Perdendo a lógica de todo processo. Meus pés cobertos de meias grossas, Metidos nestes tênis pretos e apertados. Mal mexo os dedos, dói os calos.
Sabe (Víctor Lemes) Sabe que hoje acordei com esse sentimento de carinho nos olhos, de poder sentir a saudade de um mundo colorido e simples, com milhares de carrinhos em uma única largada, outros milhares de amigos imaginários tão reais quanto o algodão de que eram feitos. De saber que posso dormir tranquilo, que tudo está bem em casa, que minha mãe sorri na sala, enquanto vê, na sacada, as três esferas reluzentes que dançavam para nós. A saudade de uma xícara com olhos e pés, que substituíra a mamadeira tão querida, naquele dia. Os bonecos, os Legos, os Cavaleiros do Zodíaco e os CyberCops. Tinha dias que me fazia cozinheiro, em mundo americano, onde tudo era feito de lata e meu fogão não tinha forno. Ou então, quando tirava tudo do lugar e colocava em cima do criado-mudo, da cama, e da cadeira da escrivaninha, inventava preços e fazia do meu quarto um verdadeiro mercado. Ou ainda, quando juntávamos duas cadeiras da mesa de jantar, púnhamos um coberto em cima, pegávamos o gravado

Abril aberto

(Víctor Lemes) Sabe quando cê sabe? Pois é, eu sabia. Mas se eu soubesse Que se o saber assim machucasse, Eu deixava de saber, e desaparecia. E abril mal abriu e eu aqui, Abrindo as janelas já abertas Pr'as mais abertas ruas que há de ter por ali. Ah, como abril já abrira minha caixa mal aberta por tantas outras tentativas, Que deixei-te na mente, Como ferida aberta, que a gente cutuca, Sangra pouco e a gente se lembra, De como machucamos o couro e a carne... Deixei abril assim, aberto, Pra quem sabe, enfim, ser descoberto. Saber das coisas de um coração confuso, Confundir-lhe e a mim também, por saber de tudo um pouco.
"Toda vez que te olho crio um romance..." (Trecho da música "Timidez", Biquini Cavadão) Horóscopo (Víctor Lemes) E toda que vez leio o horóscopo Me dá um medo de já tê-la no peito. E o amor que sonhara tanto, Num instante, se torna preto e branco. Conceder e lhe entregar o que carrego, Sentimento ilhado, sem sentido e aleijado. Mas tão leve como a folha que cai no outono. Tão doce e branco, como flocos cadentes do inverno.
Pensar em você (Víctor Lemes) Pensar em você é como embarcar Num ônibus, e ler um livro. A gente só se concentra nele, E esquece do caminho. Pensar em você é como ser Um cãozinho com três patas, Que mesmo faltando uma, Se entrega ao simples prazer de viver. Pensar em você é como ser Um daqueles negros pássaros, Que flutuam nos mares de cima, Fazendo seus círculos, e seus apitos. Pensar em você é o não ter Medo de escrever, de tentar, Mesmo que nunca aconteça, Ou que, como flor, floresça.
Tropeço (Víctor Lemes)   O caminho caminhava no menino, que mal cabia nos próprios chinelos, sem devaneios e sem medos. Chutava pedra, pisava em folha seca no chão de marfim, onde, quase sempre, se via rodeado por um mar sem fim. Hora vinha e batia na janela, Só assim ele sabia do tempo que passava, Já que o menino não podia vê-la. E ali, bem ali na esquina, Ele descia correndo as escadas Só pra ver de perto a fila de formigas. E assim passavam os dias, até Que o menino um dia se levantara, E dava os primeiros nós em seu pé. Outro dia mesmo, Tropeçava nos próprios laços Que fez há anos... Hoje, se vê um homem, Mesmo que torto, mesmo que triste, Alegre o coração por dentro. O menino criara asas, Voara tão perto quão longe, E ainda dá pra vê-lo em frente ao espelho.
Vagem (Víctor Lemes) É como ver cair a vagem E ter a mesma coragem De abri-la, mas mesmo assim, Não poder ver as sementes, Por não pertencer a mim sua árvore. Eis o meu pecado De só tê-la ao lado, Quando já é tarde e leve A brisa, dos eternos E longínquos quatro ventos. E deste jeito, no mesmo canto Me sinto, como de lado, parado. Sem ter o solo fértil do amor regado, Só por dizer o quão vazio é o pranto.  
Sem Título 10  (Víctor Lemes) Não dá pra não escrever, Quando deixo de lhe ver, Todas as palavras contidas Nas tão falantes entrelinhas. Só paro quando me dá fome, Ou quando minha coluna torta Já pede cama. Ou então, Quando em dúvida está o coração.
Belos infinitos (Víctor Lemes) Pra que estragar os versos Com coisas como solidão? Se há lá fora belos infinitos, Todos fazendo parte da canção. Ao escrever essas verdades, Me pego a sorrir um sorriso simples. Daqueles de criança, em alguma festa, Onde tenha balas, e aquela que gosta. Saber brincar e rir do alfabeto. Torcer pra cada dia ser sempre belo. Sabendo ainda das tristezas da vida, Sem se enganar por coisa pouca. Ouvir o rádio, e cantar músicas esquecidas, De um tempo que não vivi, mas tanto ouvi. Saber apreciar os raios de sol às chuvas. Sentir o vento, e o frio, e perceber que aprendi.
Refrão (Víctor Lemes) Me dê sua mão, Vamos caminhar pelas ruas, Rir dessas pessoas bobas, Que vivem azedas como limão. Vamos logo, vem correndo. Me abraça e me diz Como naquele refrão: Quero ficar só com você . E, acredito num sonho, Que apareceu uma pessoa Linda e olhos marcados... Um sonho que nem é meu. Num ônibus embarcar, Feliz viver a viajar. Sem ter hora pra dormir, Acompanhado, pra casa, ir.
Tesouro (Víctor Lemes) Velejando em alto mar, Vou ser pirata Pra, sem mapa, Te encontrar. O horizonte vou seguindo, Sem me preocupar Com o caminho, Sou feliz só por velejar. O Sol e as estrelas Serão minha ampulheta. Meu tempo é o teu, Meu destino é seu. E se algum outro pirata Lhe encontrar antes de mim, O que há pra fazer senão Velejar nesse mar sem fim...
Ao coração (Víctor Lemes) Ah! Saber voar! Sem asas, subir num avião, Subir, subir, sem pensar Pra onde devo ir... Abrir as asas como as águias, Planar sob o vento e a brisa. Poder ver-lhe sempre, Seja na terra, seja no mar... Viver sempre de coração, Em frente à lousas, pegar o giz... Cantar e ouvir uma canção Que me faça voar num 14 bis.
Balança (Víctor Lemes) Como é bom sentir de novo Aquele doce gosto, De um alguém que está lá, Pra gente, escondido, amar. Um dia passar em frente A um antigo casarão, Que até bem pouco tempo Estava abandonado: o coração. Refletir se devo ou não raspar Toda essa barba, e esse bigode. Se um dia tiver que o cabelo cortar, Só pra ver de seus olhos, um sincero olhar. Diminuir o doce, escrever demais. Aumentar a fome, por nada ou pouco Comer, quando de noite hei jamais Lembrar-me do quanto sou louco. Cantar e dançar, como uma criança Na sala de estar. Rolando no carpete Da sala de estar. Criando maquete Pra dançar e cantar feliz. A saudade desse sentimento, Que não sentia há algum tempo, Chegou bem na hora, Chegou no momento. Momento esse de se entregar, De escrever e sem vergonha Chorar, seja triste, seja feliz. Seja do jeito que for, que apenas seja.