"Tell my love to those words, which cannot hear me, but one day they'll do...
Deep like the eyes of those who never felt love nearby, nor felt the pain in their vains..."
- Víctor Lemes

Folhas
(Víctor Lemes)

Por entre grandes árvores, rodeados de plantas de enormes folhas, onde as formigas são do tamanho de aranhas, eu me encontrava. Não era um dia incomum, tão pouco havia estrelas no céu. Era só mais um dia. Eu caminhava, e passava por todos aqueles tons diversos, aqueles sons quietos... E não me incomodava.
Anos atrás, eu me via a ler e ver aquela cena das formigas e do adulto a observar. Nos dias que eu era eu, que eu tinha minha mágica, que não me via no mundo, mas num mundo. Qualquer que fosse o medo, não havia ali dentro daquele ser. Era como acordar cedo naqueles sábados, para assistir meus primeiros passos, sem ao menos ouvir o vento que batia e chacoalhava aquelas janelas. Torcer e chutar uma bola, não somente pra vê-la marcar o gol, porém mais do que isso: pelo prazer de vê-la rolar.
Dirigir os carros, por entre autódromos de tecidos, os quais não sei o nome. Fazê-los chocarem contra a proteção de pneus, de mogno, de ferro, de plástico, de piso e azulejo. Fazer com que meus olhos fossem as câmeras perante a largada. Corridas longas como histórias-sem-fim. Ter a sensação de que estão te vigiando, quando só tem pelúcias ao redor.
As minhas memórias estão trancafiadas dentro de gavetas fechadas a cadeados sem chave. A cada dia que se passou, depois daquele dia “E”, de”egoísmo”, fui eu quem trancava os cadeados, e engolia as chaves. Hoje, depois de tempos de tristeza, de raiva, de não-contato com Deus, de vergonha, de mágoas... Eu tento regurgitar as chaves. Tal como os casais de pássaros o fazem, quando estão amando. Assim como aquele casal em especial, fazia sempre...
Num mundo cheio de reticências, onde o conhecimento é escasso e a fonte é abundante. Quando a imaginação, só encontrada dentro ovos de páscoa, vem pronta. Se eu vim aqui pra trazê-los esperança, eu precisaria tê-la em mim. Que faça-me brotar a esperança, dentro de meus olhos, pai. Que o senhor, quem criou o tudo, e o nada. Que você saiba me dizer o que eu tenho que fazer. Pois eu sei que cada lágrima que brota de meus olhos, hoje e sempre, vem de ti. Eu só escrevo à fim de alguém me ler. Do mesmo modo, o chorar vale. Encha-me de vontade, de lenço, de amor...
Eu me perdi de você hoje. Ontem. O que move meus dedos a digitar tudo isso? O que faz de mim diferente, quando penso? O que espera de mim? Vibrações, é tudo o que nós somos?
Eu me amo, apesar de não conseguir pronunciar-lhe a palavra. O senhor o sabe. Não vou mais ter vergonha.
Começo hoje, tudo o que amanhã serei.
Amém.

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