"Sou eu mesmo e serei eu mesmo então
E eu queria que o tempo
Pudesse voltar dessa vez"
- Renato Russo





Morrêssemos


(Víctor Lemes)
Enquanto ele dança em seu quarto, o mundo continua girando...
E como se pudesse sentir seus movimentos,
Ele brilha e com olhos luzidos de emoção, cai em prantos...

Debaixo d’água é bem difícil ver o que está lá fora,
Seus olhos encharcam e seus dedos enrugam.
Mas é como olhar pro céu cinza e pérola, e ver nele o seu rosto.
Pensar naquele gosto amargo em sua boca é o que lhe faz sufocar-se.
Existem bilhões de caras lá fora,
Enquanto ele só conhece uns poucos milhares.
Tem que tossir pra completar o ar que percorre seus pulmões.
Tem que guardar os sentimentos pra si, e sonhar como se faz alguém que sonha.
As gotículas secas em seus óculos lhe fazem enxergar
O fora invertido, e isso lhe chama muito a atenção.
E como quando o mau uso dos dêiticos o faz confundir-se,
Assim ele o é no meio da própria vivência.
Trancado em seu quarto, mesmo que esperasse aquele telefone tocar,
Ele sabe que não acontece assim...
Pode até duvidar, duvidar dessa sabedoria,
Dessas unhas roídas, e desses olhos cortados.
Quando o que há pra fazer é olhar-se no espelho
E ver-lhe a si mesmo, ele se recusa.
E se apaixona por você, que lê.
Que pensa no porquê, ou que não pensa.
Uma mudança num mundo, onde o futuro é utopia, é só hipocrisia.
Quando aos amigos só é válido uma cerveja,
E um bilhete vale mais que cinco de nós.
E quando o mundo parar de girar,
Ele só vai conseguir sair daquele chuveiro, e começar a se enxugar.
Enxugar toda a sujeira que dele não lavou,
Nem se preocupou com sua sensível pele da sensibilidade.
Ver uma gota seca na madeira daquela janela...

Foi como ver-lhe a si mesmo, com todos os pleonasmos possíveis,
A vida que se esvaece...
Palavras aqui por mais que não pareçam, sim, fazem a diferença.
Tanto aqui, como lá...

Onde os anjos não têm asas e nem braços,
Onde todos são manchas na grande toalha,
De estampas de bolinhas multicoloridas, do grande chefe.
E eu sei por que ele escreve tudo o que, neste momento, passa a escrever-lhes.
Porém, o que seria de nós se soubéssemos a Verdade logo de cara?
Seríamos perfeitos num mundo imperfeito.
Deixemos ser uma dízima periódica,
E demoremos a chegar ao último algarismo...
Que não duvido muito, seja zero...

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