O Campo

(Víctor  Lemes)




Enquanto éramos jovens, costumávamos correr muito ao invés de caminharmos. Era como se a alegria de viver fosse transferida toda para nossas pernas, e como se não houvesse limite nosso cansaço. Por mais que eu tente lembrar o porquê de tanta correria, não consigo encontrar uma resposta. E como nesses dias onde havia correria de viver, havia desenterrado minha vontade de viver. Todos eram os dias que a trazia comigo. Senti a vontade, mais uma vez, de correr nessa minha vida parada, sem graça e sem dor.

Os campos que nos cercavam, onde morávamos, não tinha muitas árvores... ainda assim havia os pássaros. Não eram muitos mas eram bonitos o suficiente para nos fazer sorrir, diante de tal liberdade que nós mesmos nunca teríamos. E quando chegava a hora de voltarmos, todos suados por tanto correr, nos despedíamos daqueles formosos pássaros que, ao nos verem a caminhar de volta, cantavam suas músicas, cada um com seu estilo e sem preconceito.

Hoje quando recordo daqueles momentos, e comparo com esses que vivo hoje em dia, fico desanimado. Não tenho mais aquela vontade correr. Quando tentei correr dias atrás, minha pernas se queixavam: enferrujadas estavam. Vi você caminhando. Confesso que pouco me importei, no começo dos dias que viriam. Caminhava, sim. Mas não com olhar calmo, o coração tremia, disso tinha a certeza. Quando me aproximei, para reconhecer sua face, e descobrir quem era, sorriu-me. E mais uma vez, confuso ficara.

Aquela vontade de correr voltara, e agora como um preso que acabara de fugir de sua cela, corria em sua direção. Ao perceber-me, perambulou por outros lados, e caiu no campo macio: o teatro dos passarinhos. Me aproximei e ao sentar-me ao seu lado, você levantara tão rapidamente que meus ossos não sentiam energia o suficiente para reerguer-me novamente.

Mais uma vez ria de mim. E correndo desapareceu. Senti que devia recomeçar a correr, porém em mim não havia sentido mais.
Desisti de você, mas bem menos do que você desistiu de mim. Naquele dia cheguei próximo a uma árvore, não era a mais alta. Nem a mais baixa. Era como se ela e as outras fossem todas iguais. Esse era meu desejo. Enterrei minhas palavras e sentimentos, que guardava para um dia revelar-lhe, embrulhados em papel-manteiga, laçado a ele uma fita de seda vermelha.

Escondia ali meus desejos mais profundos, para nunca mais encontrá-los. Nem mesmo quando o quisesse de toda alma.

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