Água doce, água salgada
(Víctor Lemes)
Quando voltei a ouvir aqueles versos, de poetas que tanto vagaram por ruas nas memórias de minha alma, senti outra vez aquele gelado no rosto de quando lágrimas, de saudade, correm por toda a face em direção aos lábios. E senti, ao fim da jornada daquela lágrima, o gosto salgado desta que tocara meus lábios.
Ao ouvir, naquela rádio, as músicas que marcaram minha infância, senti-me novo mais uma vez. Como se houvesse sido matriculado naquela escola de muros altos, com uma faixa larga azul pintada bem ao meio, nas aulas de música, únicas em minha vida, onde cantávamos aqueles mesmos versos. Nem imaginávamos, e nem queríamos imaginar, quem era aquele (ou aquela) que havia escrito as bonitas estrofes, que em grupos cada qual com seu tom de voz, cantávamos.
No momento em que o salgado daquela lágrima tocou meus lábios, senti o gosto forte também daquelas memórias. Que há muito não as via, ocupadas com as próprias vidas, ou até hibernando tal quais os ursos polares fazem na Noruega. Achava que só voltaria a vê-las quando cansado de mim mesmo estivesse.
Há muito, havia trancado-as com cadeados enormes e resistentes, cujas chaves engolira. Naquele instante, diante das vozes que a meus ouvidos chegavam, se libertaram por minutos... que foram o bastante.
Agora me encontro perdido por entre portas e janelas, as quais tinha receio em abrir. Pois tudo que em e através delas eu visse, veria não mais o eu; veria mais. Veria sempre aquele que vejo todos os dias, quase todo o tempo. Veria mais uma vez meu reflexo naquele antigo espelho.
E me lembraria da pessoa que não fui ou deixei de ser... Daqueles versos que ouvi, que alguém escreveu: “Águas que movem moinhos / são as mesmas águas / que encharcam o chão / e sempre voltam humildes / pro fundo da terra”... Pro fundo da terra...
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