Sentados aqui, construindo uma memória juntos, foi isso que escrevi naquele outro poema. Acontece que me peguei pensando nestes dias que estão por vir, estes dias que me deixam tristes já por medo... de não lhes mais ver. Querendo ou não, todos que conhecemos de uma forma ou de outra, pelas ruas vagaram, e sem endereço nos deixaram na mão.
De contrapartida, eu sinceramente espero que você, e que os outros não façam isso comigo. Ou conosco, que seja. Pois nesses já quase passados três anos, pastei, vivi, chorei e ri. E digo mais: aprendi não só com os mestres e os doutores, mas também com você Camila, com você Ester, com você Juliana, e com muitos outros que, aqui preencheriam as poucas, no mínimo, sessenta linhas. Aprendi como viver a vida dos outros na minha. Como fazer alguém rir diante das aparentes tristezas. Aprendi como dar uma aula, e se apaixonar pelo simples fato de poder lecionar algum conteúdo a um pobre olhar.
Chego agora nestes últimos meses, e percebo, tarde, que temos muito em comum. Culpo-me por não ter dado valor antes, por ter deixado o tempo apagar as correntes, por ter me deixado levar pelas ondas dos mares revoltos da vida. Ou por puro egoísmo. Mas culpar-se de nada vale, já que a culpa por si só não trará esse tempo perdido de volta pra mim.
E é por isso que venho, a partir deste parágrafo, agradecer a todos os presentes. Pelos presentes que recebi de todos, pelas chances e pelas atividades que eu não cheguei a fazer, mas puseram meu nome. Pelos seminários combinados: ai de quem erguesse o braço (!) e fizesse uma pergunta difícil. Entre outros.
Quando achei que perdia o sorriso, vieram vocês e me resgataram daquele sofrimento. Sem saberem, sem conhecerem, abriram os braços e me abraçaram, mesmo sem tocarem em mim com seus braços. Mas tocaram e agradeci. No silêncio, mas agradeci. Quem me viu quem me vê. Passei por quase todas as panelas, e me aliei ao caldeirão from hell. Foi lá que amadureci, de fato. Foi lá que encontrei os verdadeiros, todos que hoje aqui, ouvindo, estão.
Esta manhã, dia do professor, liguei a TV (coisa que não faço muito) e assisti àquele programa de culinária. Recebia a visita de uma antiga professora de Literatura, 93 anos, que chegou a conhecer Manuel Bandeira e Drummond. Ao final da brevíssima entrevista ela resolveu deixar uma mensagem a todos nós, futuros professores. Disse que era preciso amar tudo que fizermos, só assim, a certeza de que seguimos o caminho certo, brotará nos olhos de cada criança de nossa classe. Aquela senhora, que com o olhar apenas já falava, tinha convicção, tinha amor nas palavras. Dos meus olhos, que até então duvidavam de minha capacidade de escolha, nesta manhã derramaram lágrimas daquelas que nem se sabe de onde vêm.
Por isso hoje, nesta mesa aqui, alguns reunidos, digo que a saudade será grande, e que o caminho será árduo... mas que acima de tudo, amigos, vocês me deixaram e estão a deixar memórias, grandes memórias...
Passar bem.

- Víctor Lemes

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