Cavalos

(Víctor Lemes)



É a miséria e a derrota,
Ver a vida se esmiuçar entre as mãos,
Não só a tua, mas a minha.
Minha cabeça confusa, minha coluna torta.


Quando destruiu sua vida
Levara a minha.
Toda vez que tomava banho,
Você pensava que a água não era simples água.

Devia ser água benta,
Que desce partindo da testa
Até o joelho, e sem ajoelhar-se
Vai levando ao ralo todos seus pecados.

E quando partiu empurrado,
Nem sequer pensara nos fatos,
Fechou os olhos e se esqueceu de vez,
De tentar ser o que não foi em sono.

Foi-se e acabaste com minha vida,
Minha alegria é escondida pelo véu do sufoco,
Que engole a serena chuva da tristeza,
E seca ao sol da frustração e da amargura.

Não tenho que ser o que quisera eu fosse,
Há de completar tudo a tempo,
Há de tornar a ver o horizonte
Antes que o sol se parta debaixo de meu rosto.

Não sei como ainda ando
Como em estilhaços é feito o corpo,
Que por dentro é oco, e vazio o som da voz,
Que já não reclama por não ter feito o que já está feito.

O anel só gira no meu dedo,
Nem preso fica, não importa quanto o amasse
Pra travá-lo nele mesmo.
Eu que trotei como cavalo, hoje empaco feito jumento.

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