Conforto
(Víctor Lemes)
No tempo em que as folhas caíam no outono,
Em que a chuva se derramava em todo lugar,
Quando os índios não eram animais,
E os negros eram tão brancos como os pardos.
Quando os sonhos se realizavam a cada segundo,
E a cada esquina não se via uma sequer criança,
Onde as sombras só apareciam à noite,
E a luz irradiava e vinha até da Lua.
Em tardes que começavam cedo,
Você via saúvas trabalharem nas calçadas,
Levando em suas cabeças imensas folhas secas.
Invertia os passos procurando evitá-las,
Pois mantinham o equilíbrio de um mundo fictício.
E desde então tem nos permitido
Viver e vivenciar tudo e todos,
Sabendo disso, com cacos de espelhos,
Bem afiados, fomos furando as veias dos outros,
Nos manchamos de sangue, de dor, de covardia,
Num mundo repleto de vida nos matamos.
Como eu sinto falta daqueles dias,
Ah! Que nostalgia de uma vida que nunca vivi.
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