Estou voando!



(Víctor Lemes)

Quando cheguei em casa, larguei minha bolsa em cima do sofá, e subi correndo até meu quarto. Lá, abri as portas do armário, vesti minha roupa especial, troquei os óculos. Desci feito bala as escadas, tropecei em mim mesmo, por pouco caí, e me lembrei de rir. Saltitando nos corredores cheguei à cozinha, bebi um copo d'água. Voltei pelo mesmo corredor, em direção à sala. Sentei-me no mesmo sofá da bolsa, calcei as sandálias.
Abri a porta, e com uma palma da mão aberta por sobre os olhos, observei o céu. O Sol já estava se deitando no horizonte, o vento estava bom o bastante pra bagunçar meus cabelos. Sorri, enchi meu peito de ar fresco. Tornei-me um com Ele. Caminhei até a garagem, tirei o lençol que cobria minha espaço-nave. Abri o portão de casa, empurrei-a até lá fora. Sentei-me na poltrona principal. Imaginei o motor roncando, as turbinas girando. E assim foi. Me situei em cima de minha casa, e por nem um segundo, lá eu estava.
Voava! Atravessava nuvens verdadeiras, e as falsas! Me via rodeado de estrelas, me via acompanhado de "estrelas"! Imaginei tua casa sob minha nave, e novamente, lá estava eu por sobre ela.
- Clarice! - gritei. - Clarice! Acorda, Clarice!
As janelas de duas folhas se abriram, vagarosamente. Uma cara de sono estampada a teu rosto fez-me gargalhar por dentro. Coçou ambos os olhos, e quando finalmente percebeu quem eu era, retrucou:
- O que foi, Vinícius? O que quer dessa vez?
- Não vês? Estou voando, Clarice! Estou sobre as nuvens!
- Não respondeste minha pergunta ainda! Que queres de mim a esta hora?
- Ôxi! Pois bem, espera um segundo.
Imaginei minha nave no solo, pousando devagar e silenciosamente, assim não acordaria os vizinhos. E assim foi. Lá estava ela, flutuando, quieta, por sobre o gramado. Estável. Abri a janelinha principal, botei minha cabeça toda para fora, e convidei:
- Vem! Vamos passear. Que te custa? Quanto?! Diga-me quanto, que eu cubro este valor!
- Espera, - e fechou a janela.
As meninas demoram tanto para se arrumarem, já repararam? Mas Clarice não. Lá estava ela, bela, preparada para navegar nos mares do ar. Segurei tua mão, e com cuidado, ajudei a entrar na nave. Sinta-se em casa, brinquei.
Nos imaginei voando rápido, por entre as copas das árvores. A luz do luar refletia nos vidros, Clarice estava encantada. A luz do luar refletia em teu olhar, eu estava lisonjeado. E passamos próximo a um bando de maritacas, aquelas aves que parecem papagaios, mas berram algo como: Crá-crá-crá! Talvez elas não soubessem pronunciar o L, e substituíam por R, quem sabe um complexo de Cebolinha ao contrário. Vá entender.
Enquanto vagamos neste planeta, estamos atados ao tempo. E assim, tivemos que voltar rápido pra casa, senão dariam-nos como desaparecidos. Pousei no mesmo lugar de sempre, ela desceu. Abri um sorriso:
- Tenha uma boa noite, Clarice!
Ela caminhara até a porta, quando parou de repente, virou-se, e sussurrou:
- Tu tens sorte. Podes viajar nesta nave quando quiseres, podes ser feliz...
Desci da nave, e corri para abraçar-te. Durante o longo, e, ao mesmo tempo, breve abraço, sussurrei de volta.
- De que me adiantaria a felicidade sem tua companhia?
Beijei-lhe o rosto, abri um sorriso, e corri pra nave. Devia retornar à realidade. Devia me lembrar de tudo quando acordasse. Subi em minha nave, e voei de volta pra casa, como faz uma estrela cadente!

Comentários

  1. MUITO bom sr. Lemes! *-*
    Que lindos, viagem linda. Você tem sorte pode viajar na tua nave quando quiser e eu... no meu tapete, gosto do vento... :D

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  2. Ah, um tapete! Essa tua simplicidade peculiar, gosto muito. E o vento... amo o vento. :D

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