Estou sonhando!



(Víctor Lemes)


Um dia eu acordei envolvido por flores,
Despertei como um feto em ventre de mãe:
Encolhido, agarrado às próprias pernas,
Como dizem por aí, como as conchas.

No céu as nuvens escreviam palavras,
Pareciam que era como versos
Soltos, vagando num espaço sem rumo,
Ao longe podia ouvir-se os cantos.

A voz forte, me fez lembrar certa pessoa,
Talvez a conhecesse, mas não conseguia
Me lembrar de seu rosto, ou de seu tom.

Quando parei para refletir, me recordei
Que só havia procurado luz no alto,
E quando mirei os olhos ao chão, que surpresa...

*

Estava em uma praia! Que linda era sua areia.
Não era dourada, nem tinha cor de areia,
Mais parecia farelo de cristais brancos,
Ou transparentes. Lembrei-me de teu olhar.

Refletido nas águas daquele oceano de prata,
Bem a minha frente, pude ver um rosto lindo,
Leve, belo. De uma garota que me foi lembrada,
Já a tivera conhecido, em algum lugar outro.

E me bateu uma saudade imensa!
Senti aquele fogo que arde sem se ver
A correr nas minhas veias imaginadas.

E me lembrei quem eu era!
E passei a cavar com as mãos as areias,
Lá estariam escondidas minhas asas.

*

Cavocando, arremessando conchas ao longe,
Sentei-me cansado, senti-me cansado.
Quando reparei, já era noite. As noites lá
Eram lilás, eram doces, eram calmas.

Não estava só ali, estava companhado.
Uma lua magnífica me olhava, com cara de gato.
Me observava curiosa, talvez estava rindo de mim,
Ou então, estava me amando.

Tombou um pouco sua cabeça,
Como quando aqueles felinos estão
Desconfiados de algo.

Miou um miado longo, quase uma canção.
Naquele momento o céu se iluminou,
Milhares de luzes pulsantes me fascinaram!

*

E a Lua disse: "Se quiseres podes enviá-la
Uma mensagem." E, num passe de mágica,
Estava diante teus olhos planetários gigantes.
"Logo acordarás, ela está a esperar-te na janela."

"Quero que tu, Lua amada, mostre-me onde
Guardaste minhas tão adoradas asas", supliquei.
"Entendi", ela respondeu. "Subestimei-te, ó criança
De luz índigo, tu já entendeste quem és."

Pisquei os olhos, e lá estava eu, em frente a uma casa.
Com chaves nas mãos, abri o portão. Havia algo coberto
Por um lençol creme, naquela garagem. Minhas asas!

"Sei que tenho tempo suficiente, e num pulo, voo para lá.
Sei também que não queres, nem sabes, acordar...
Deixa-me que encontre Clarice! Por favor, continua a sonhar."

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