O capítulo dos Céus

(Víctor Lemes)


Vinícius pôs-se a dormir,
Enquanto Deus chorava lá fora.
No meio da noite acordara
Tão de repente,
Que até o Chefe se assustara,
E um grito ressoou nos céus:
- Ca-brum!
Vinicius então, levantou-se da cama,
rumou até a sacada de seu quarto,
E fitou os olhos inúmeros de sua amada.
"Não amo uma pessoa, ela deve ser mesmo
É uma aranha!"
Disse para o Velho de barbas brancas que sentava-se
Em uma das nuvens plúmbeas...
Se referia às estrelas que brilhavam
No quintal daquele Ancião.
Para Vinicius, não passavam de meros olhos
De sua amada, Clarice...
Ele sabia que a perdera por fora,
Mas que ainda a mantinha por dentro.
Enquanto aquele Raio sorria,
Vinicius ia se lembrando de tudo
Que até então vivia.
Como é belo o Amor de Vinicius!
Quem dera eu pudesse ter tido a chance
De tê-lo conhecido neste imenso sonho,
Que uns chamam 'vida'.
Eu, que vivo assim, em ânsia de poder tocar os lábios
Doces e sensíveis daquela a qual o eu-lírico
De todos os meus poemas promete seu coração,
Seu céu, seu inferno, seu ramo, seu rumo.
Ando tão sem jeito,
Que agora me sento
À varanda, e pisco os olhos ao Absoluto
Que habita os Céus azul-petróleo do meu mundo.
Nunca me senti tão perto Dele.
Irônico pensar que estou mais próximo do Absoluto,
Do que da Clarice de Vinicius.

Antes de deitar, ele, Vinicius, finalmente entende:
Para que houvesse chuva lá fora, era preciso alguém chorar.
E lágrimas não brotam de qualquer lugar...
Das veias, vem o sangue.
Dos olhos, vem o choro.

Se olhos é que choram,
Não são Seus os que choram...

Clarice...
Como alcançar-te nos céus azuis-petróleo,
Quando não estou com minha nave?

Ainda a amo,
Mesmo que este 'ainda' nunca há de findar-se.

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