Clichê

(Víctor Lemes)

Em um acampamento, num canto da sala, os dois haviam se reencontrado depois de algum tempo. Ele, então saudoso, pôs-se a falar primeiro:
- Oi.
- Oi – ela, com um sorriso tímido, respondeu.
- Estão bem?
- Sim, gosto muito dele.
- Como ele é?
- Ah! Ele é engraçado, carinhoso... adoro ele.
“- Como se sente quando longe dele está? Você se remói por dentro, ao esperá-lo voltar? Aguarda ansiosamente os dois primeiros dias da ausência? Quem sabe até abra até seu caderno, e releia seus recadinhos de amor? Pergunto-me como fica sozinha, como fica seu coração, enquanto ele está ao longe, flutuando em algum lugar. Sua alma sai do seu corpo e vai com ele, ou resolve ficar deitada em sua cama, abraçada ao seu travesseiro, só pra poder sentir o cheiro do shampoo de Babosa que ele usa?
Existe algo no seu peito que a faz querer que os dias passem logo enquanto ele não está, porém, assim que ele voltar, você olha pr’o Tempo e implora:
- Pára, Tempo! Fica! Não vá embora não...
E quando ele promete a você voltar tal dia, e não aparece, como fica seu coração? Como você fica em casa? Perdida? Se sente triste? Pergunto-me como consegue viver os dias, sem nele pensar, para não estressar. Você pensa em mentir à si mesma? Porque mentir que não liga mais para ele, deve ser difícil, né? Sabe, pergunto-me tanto porque importo-me com você. Ele já passou da fase de adorar você? Está no ‘gosto de você’ ainda, ou já se estremeceu, e já chorou por dentro tamanha emoção de poder pronunciar três palavrinhas mágicas: ‘eu te amo’?”
- Ei! “E você?” eu disse! Como está você, perguntei... Mas acho que deveria perguntar-lhe “onde”, certo? – riu.
- Oi... Eu? Ah, estou ótimo! Não parece?

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