This dream never ends, you say

(Víctor Lemes)


Carrego no meu dedo indicador esquerdo a chave que abre as portas do céu e do inferno. Queria ter tido um irmão ou irmã, para que assim pudesse saber sentir o que é ter isso e poder tratar todos os outros como o Micael de Nébadon um dia nos disse: 'vós sois irmãos.' Mas não tive. Tampouco tive a figura de um pai que pudesse me fazer crer Nele, e chamá-Lo por 'Pai'. Por isso, não O chamo assim. Ultimamente, aliás, nem tenho me lembrado de chamá-Lo. Aproveitando o advérbio de último, também estou a um passo do nada. Estou quase chegando num estado precário de auto-condenação por motivos quaisquer, o qual uns poucos chamam de piloto-automático. Ayrton nunca aprovaria tal função. Tenho lacunas em meu ser que custo-me preencher. Não sinto o gosto das coisas como antes, pois me afastei de mim mesmo, e pensei nos outros. Eu sei disso tudo, sei como tudo funciona, e sei o resultado de tudo; isto faz-me um completo excluso de mim mesmo. A dor é diferente para cada pessoa; dizer que isto ou aquilo dói menos que a dor que sente é não ter compaixão, não ser o outro por um momento. No fim, a dor pra mim é a mesma dor sua. Não há culpados, não há vítimas. No fim, não há mais diferenças. Assim que eu quero viver um dia. Quando se aprende a desafiar o tempo, descobre-se que nunca acabou o primeiro dia. Sabe, minha falta de ar voltou. E só volta quando algo estranho, para não dizer ruim acontece dentro de mim; aproveitando a deixa deste verbo... por que não posso conjugá-lo? Seria tão mais simples, seria um grito de guerra meu, seria nosso lema para nossos dias:

- Quero acontecer!

Nós, humanos, criamos a linguagem escrita para nos ajudar? Certas coisas era melhor não ter sabido escrever... Deixa-me esta noite; deixa-me assim. Deixa que daqui a pouco eu chego lá, sem precisar rezar.

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