Para aqueles que tragam o Amor
(Víctor Lemes)
Há uma porção de meias para dobrar e guardar nas gavetas, mas tenho evitado abri-las. Andei pensando muito pela manhã e durante o almoço, tanto que minha mãe percebeu e me perguntou: "o que está pensando?", e simplesmente respondei que estava a pensar em nada. Contudo, quem pensa em nada não existe. Quando digo tchau a alguém, não me despeço com beijos no rosto, como os antigos fazem; acho que evito não criar tantos elos com a pessoa. Não quero entrar num transe lúdico novamente. Então, evito o contato direto, o contato mais próximo. Evito palavras pronunciadas, baixo o tom da minha voz, aumento o volume dos fones de ouvido, ouço os telefones tocarem sem algum ruído, e finjo que para os outros sou um desconhecido. Trago comigo as bençãos de todos, guardo-os nos bolsos... Vejo outros jovens pelas ruas de passarinhos azuis, desesperados em quietude, desapontados em inércia, perdidos sem se encontrarem. Aceitando tragos, aceitando trapos. Vivo num déjà vu neste momento: já escrevi isso antes mas não cheguei a publicar, por eu não estar maduro. Cheguei a uma fase onde não existe mais futuro, tampouco passado. Não há pontes a construir, pois já abandonei as obras. Quem quiser me buscar, que peça a corda para eu lançar, e puxar-lhe de volta à Vida. Sim, a Vida, pois a Realidade ainda não morri para vê-la. Quase meu Ego venceu de novo, mas apaguei o que ele havia escrito. Nessa batalha, passo a perceber que os que têm mais a perder são os que estão do lado da Esperança. Pois bem, meus amores, espero que vocês tenham a coragem suficiente de abrir mão dos que amam em prol de algo grandioso; como eu, hoje, faço oficialmente.
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