História de bêbado desaparecido
(Víctor Lemes)
Sabe aqueles anúncios impressos em papel sulfite, contendo a foto do bêbado desaparecido, telefone da família, em desespero procurando o coitado? Então, me dá nos nervos tamanha babaquice. E antes de você vir a me julgar ou ao que penso, pense um pouco comigo. Quantas foram as noites que o infeliz do bêbado parou naquele bar, o mesmo bar que agora consta o poster de aviso, procurando algo para preencher a falta que fazia na vida dele? Quantas vezes ele voltara para casa tarde, ou então nem voltara! Esses tipos de bêbado só bebem nos mesmos botecos, e a família, se assim desejasse, poderia encontrá-lo com facilidade. Poderia buscá-lo e trazê-lo para dentro. Poderia ter se dado conta que está ficando tarde, e o velho ainda não chegou para a janta. Mas não, enquanto o velho bebum não aparecia em casa, mal fazia falta. Agora que dizem que desaparecera, pois nem a dona do boteco soube do paradeiro do infeliz, a família agora se preocupa em procurá-lo. E se preocupa tanto, ou dizem as más bocas que sim, que até pediram para o neto imprimir algumas cópias do anúncio, do poster, do cartaz, do jeito que quiser chamar, com a foto do meliante COLORIDA. Parabéns, povinho maravilhoso. Deus abençoe tamanha falta de nexo. Me imagine de pé e aplaudindo-os agora, por favor. E não se preocupem: não estou bêbado; e, daqui, não desapareço.
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