Sobre as estrelas

(Víctor Lemes)

- Gostas de segredos? Pois, conto-te este já que mereces. Vês o manto negro que cobre-nos as cabeças esta noite? Chamam-no de "noite". Dizem as más bocas que nele dormem intactas as chamadas "estrelas". Ao mirar meus olhos acima, neste vasto oceano de vazio, não encontro uma estrela sequer...
- Mas como? Não vês? Há muitas próximas da Lua, e outras ali... e outras acolá...
- Lá em cima não há nenhuma. Aqui em baixo, deparo-me com duas. Aquelas não são estrelas, senhorita. São os anjos que perdem seu tempo a nos observarem, assim como perdemos o nosso ao observá-los. Os homens nos disseram que eram "estrelas"; os mesmos homens que nos disseram que éramos bem-vindos ao sistema.
- Não entendo... Como podes dizer que "estrelas" não existem, ou melhor, que não há uma sequer nos céus dessa noite, mas sim apenas duas caídas nessa terra?
- Eu é quem deveria me espantar, e daqui já posso ouvir a Lua a reclamar! Como ousa roubar-me, ela diz!
- Que tenho eu culpa?
- Não sabias porque não vias; roubaste duas únicas estrelas da Lua, e adotara-as como teus olhos. Agora, vês tudo! Sejas bem-vinda ao meu sonho, senhorita!

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