A levada da breca


(Víctor Lemes)


De mãos dadas vamos caminhando pela estrada
De terra e pedra.
Vez ou outra se agacha para contemplar
As folhas ambulantes.
E a luz do sol é refletida em teus cabelos
Cacheados e compridos.
Carrego-a nos ombros, ambos nos olhamos.
Com seus braços ao redor de minha cabeça,
E os meus ao alto, apontando os pássaros.
Agarro tuas pernas,
Abre teus braços,
Corremos juntos feito um de nossos irmãos.
Voamos enquanto nossos pés
Não saem do chão.
As flores que se debruçam ao redor da estrada
Sorriem para você.
À noite, os amigos lá de cima nos cumprimentam,
Estamos deitados, estatelados no gramado.
Estamos com braços e pernas afastados,
Rimos fingindo ser uma estrela também.
Pego tua pequenina mão com leveza,
Escolho seu indicador e o aponto à uma delas,
Uma em especial,
Uma cor lilás, pulsante, enorme, majestosa.
"Vê aquela ali?
Se não fosse ela, você não estaria aqui."
"Como assim, papai?"
"Você é a promessa da sua avó.
Minha melhor herança."
Fechamos os olhos, e agradecemos.
"Por que chora, papai?"
"Porque isso não é um sonho."

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