Violões negros
(Víctor Lemes)
Passo em frente à casa, e observo suas paredes, como quem procura um meio de invadi-la. Por sobre as janelas debruço-me as mãos, e com os dedos sinto o calor frio dos vidros. O piso de madeira geme enquanto meus pés o pisam levemente, como se neles eu não os pisasse, mas fizesse carinho. Toco a campainha, mas ninguém atende a porta; está um breu aqui fora, e lá dentro sinto alguém só. Prefiro ficar em silêncio do que gritar por atenção de quem na casa reside, pois não gosto de incomodar os vizinhos, embora haja poucas casas nos arredores. Com um dos cotovelos, quebro um dos vidros, e o barulho faz com que algumas formigas despertem de seus cochilos. Aventuro-me então para dentro da casa, e me deparo com um espaço amplo, com diversos violões negros por todos os cantos, há no centro da sala também um microfone. As cortinas estão fechadas, há luz brotando de algum dos cômodos próximo da sala. Não sinto medo de investigar quem na casa vive, mesmo que a escuridão esteja nela presente. Alguém está só, e só isso me basta para que eu, assim, invada e resgate da casa quem nela permanece inerte. Encaminho-me então para o sótão, lá tem uma cama, onde um ser se debruça cabisbaixo por sobre esta. E só, tão alheia a mim, ela permanece. De imediato, meus olhos não sossegam por apenas observá-la, e meus braços e meus dedos se coçam para que nela eu dê um abraço. No mundo de onde vim, os seres se resgatam com abraços. Nisso, aproximo-me do então corpo inerte, por sobre a cama debruçada, e nela entrelaço meu corpo, e numa surpresa lhe liberto do breu que ali havia pela ironia de prendê-la por entre meus braços. Só não mais; sós agora estamos. Do meu mundo, abri as portas mesmo sem ela ter tocado as inúmeras campainhas, sabe por que? Porque a amo e a aguardo, pacientemente, vir entrar no meu ser, e descobrir quem sou de fato. É importante lembrar que as formigas não dormem... Eu a amo, e a guardo. Só, me tens. E então, quando vens?
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