E a magia...
(Víctor Lemes)
Pés descalços, a caminhar por sobre a terra,
Caia a chuva cansada, e suada de tanto calor.
Caminhava sem olhar para qualquer direção,
Dizia que procurava de onde vinha tanta vontade...
E, diziam-no: "vem de dentro de ti, oh pequeno garoto."
Diziam-no: "vem aqui, dentro de nós, oh menino bondoso."
Ouvia-lhes: "se perca dentro do Universo, parcela de Deus."
Ouvia-lhes: "queira se perder por entre as estrelas, somos teus."
Agora corria, ainda olhando o solo, seus pés afundavam na lama.
Pisava, amassava, destruía folhas secas no caminho, sementes
Não vingadas de amor e de esperança, e de rancor e de tristeza.
A cada passo a frente, sentia-se um passo atrás, ou sentia-se nada.
Fechou os olhos.
Enquanto corria,
Com sua mão direita agarrou seu peito,
O lado esquerdo...
Enquanto corria,
Com seus olhos castanhos cerrados,
Levantou sua cabeça aos céus...
Com os olhos fechados,
A fitar os anjos que fingem ser estrelas,
Abriu a boca em desalento...
Engolia uma água doce,
Já não sabia mais se o que engolia eram
Suas lágrimas ou o suor da dona chuva...
Com sua mão direita
Agarrada ao seu coração pulsante, e medroso,
Esticou, ainda correndo, seu braço esquerdo...
E, no meio daquela chuva forte,
Seu braço encharcou-se por inteiro,
E num desejo único, suplicou:
Parta-me, senhor Raio!
Faz-me tua luz, por um milésimo de segundo!
Leva-me, senhor Raio!
Encha-me de luz por dentro, eu preciso!
Por favor, senhor Raio, ouça-me!
Tu sabes bem...
Sempre após o Raio,
Há de vir o Trovão!!!
E do céu, brotaram raios solares.
As cortinas de nuvens se abriram, e lá ficaram:
O garoto frustrado;
O coração quebrado;
A alma satisfeita;
Os pés machucados;
E os olhos... cerrados...
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