A quem pertencer

(Víctor Lemes)


As palavras me chegam
E vão preenchendo
As linhas deste caderno,
Enquanto o café esfria
Na xícara em cima da mesa
Na qual me encontro.

Há quem diga que
O que faço não compensa o gasto
Pois, aquilo que escrevo
E para quem escrevo
Não surte efeito algum imediato.

Ora, que tolice!
Meus versos não são
Meus, é o Universo
Que me entrega
Seus presentes
E me pede, como mensageiro
Que sou, que eu os entregue
A quem os pertence.

O café pode esfriar,
Posso perder o apetite,
Posso mais tarde sentir fome
Que meu Amor serve pra dar.

Quando se Ama, não se divide,
Se compartilha.
Se vê no outro a si mesmo,
Seja o sorriso, seu sorriso;
Sejam as cor dos olhos, seja seu olhar;
Seja, como agora, seu mistério,
Seu complemento.

Quando, então, distante
O outro fica do seu coração
O Universo paga a promessa
Que lhe fez, outrora,
E empresta à sua alma
Uma sensação sublime
Que te transmite a seguinte mensagem:

"Ela te agradece o café frio,
E os versos que escreveste;
Ela te carrega nos olhos e na boca,
A cada vez que te recordas dela."

Pergunto-me então,
De que maneira posso eu
Esperar a sua volta se ela nunca
Partiu do meu coração?


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