Arabesque

(Víctor Lemes)

(Estou com isso matutando na cabeça há 4 dias, e não vai embora. Acho que alguém me pediu para escrever.)


Uma vez tive um "sonho" que, até àquela hora, não entendia. Nele, estava eu dialogando com alguém de outro plano; na minha cabeça passava um filme de tudo que aconteceu na minha vida, tudo que me marcou, tudo e todos que foi e foram especiais para mim. E eu dizia a este ser, com voz incrédula: "É impossível! Está me dizendo que eu inventei tudo isso? Que eu criei tudo isso?! Eu criei Jasão e todo o Cavalo de Troia, minha mãe, e todos os outros?!" Ele se limitava a sorrir, "Assim é." E acordei. Diz-se que os sinais vem aos poucos, e que a Verdade é um quebra-cabeça. É preciso paciência para completá-la.



Tenho o costume de ler andando. Na cidade onde moro, sou famoso por causa disso: todos os comerciantes me identificam como "o rapaz que lê andando". Para te ser sincero, ando mais rápido se estiver lendo; mais rápido ainda se estiver lendo ao escutar música; e ultimamente tenho evoluído nessa parte: às vezes me pego cantando a música que ouço, enquanto leio andando(!). Mas isso não vem ao caso. Quando leio um livro é como se eu conseguisse assisti-lo na minha cabeça, como se eu criasse seu filme. Por isso, procuro ler ouvindo música, pois esta se torna a trilha sonora do meu filme. Mais tarde, toda vez que ouvir essa música me lembrarei do filme que li. Quando perguntam qual foi a invenção do século passado mais importante, costumam dizer que foi o telefone, a internet, o computador, o celular... mas para mim, é o aparelho que lhe permite ouvir música em qualquer lugar! Antes se chamava de walkman, diskman, mais tarde MP3 player. Não há coisa melhor na Vida que poder ouvir, cantar, escrever, dançar, e sentir MÚSICA!

Enfim, eu nem sei bem por onde começar a juntar as peças, mas espero que possa me acompanhar. Micael de Nébadon, vulgo Jesus de Nazaré, um dia me disse "tudo que imaginas, já existe". Ele quis dizer que literalmente qualquer coisa que você invente na sua mente, não é invenção original sua, ela só apareceu como possibilidade na sua cabeça porque sua mente a buscou dentro de você; Platão ou Sócrates, não me recordo direito, também afirmou coisa similar, ele dizia que esta vida é a cópia da Perfeição, se imaginássemos um novo formato para uma cadeira, na verdade este "novo formato" já existe na Perfeição, lugar para onde iríamos quando morrêssemos, e nós simplesmente copiamos de lá e trouxemos pra cá. O fato de já conhecermos essa Perfeição dentro de nós mesmos, de nossas mentes, de termos esse acesso quando querermos criar algo, condiz com o que Osho, filósofo indiano, sobre não termos que procurar as respostas fora de nós mesmos: todo o potencial de totalidade está dentro, não fora.

Partindo do que o Mestre me contou, e ele nunca mentiu, se tudo que imagino, já existe, então quando leio um livro, consigo imaginá-lo na minha cabeça porque tudo aquilo existe. Se um autor teve a grande façanha de "inventar" uma história ou um poema que seja, as palavras certas e as ideias vieram da Perfeição, vieram de algum outro lugar, e trouxeram à ele a possibilidade de compartilhar suas histórias na dimensão em que ele se encontra. Nossa, esse texto vai render altas teorias! Devo fazer uma observação: daqui para frente, as coisas vão começar a desafiar os paradigmas que te forçaram a acreditar que são absolutos; se aquilo que leu até aqui te despertou alguma curiosidade que vem do coração, não da razão, está aconselhado a continuar. Caso contrário, é melhor parar por aqui mesmo, que um dia, outros meios de comunicação chegarão até você, inexoravelmente. (Assim também dizia o Mestre.)

Há dois filmes que gostaria de citar aqui na minha (será que é minha mesmo?) teoria: A Viagem (Cloud Atlas, 2013) e Mais Estranho que a Ficção (Stranger Than Fiction, 2006).  Vamos começar pelo meu favorito de sempre: Cloud Atlas (prefiro o nome original do que a porcaria de nome que escolheram na tradução). O enredo é simples: todos estamos conectados, independente do tempo ou do espaço que nos situamos, nossas ações interferem uns aos outros, quer estejamos conscientes quantos a isso ou não. Há várias citações magníficas nesse filme, mas a que mais vem ao caso aqui é esta:

"Nossas vidas não são nossas. Desde o útero até ao túmulo, somos ligados a outra pessoa. No passado e no presente. E com cada crime, e cada boa ação, fazemos renascer o futuro."

Deixo quebrar um paradigma básico seu: o tempo não existe. Se fôssemos pensar, a ideia de presente, passado, e futuro é relativo. Vamos supor que esses termos realmente existissem, então, estaríamos vivendo num constante passado. Hum segundo passou agora há pouco, e se passou, já é passado. Nosso cérebro leva 13 milissegundos para processar as imagens que chegam através dos nossos olhos, ou seja, a imagem do "presente" só é decodificada e interpretada como realidade para nós, 13 milissegundos depois; não é mais "presente", é passado. Se você quiser ainda acreditar que exista o tempo, então quebre outro paradigma: o tempo é um espaço. É por isso que é possível viajar no tempo. O tempo nada mais é que outro espaço, paralelo à sua dimensão, acima ou abaixo da sua frequência. Quando você entender isso, você conseguirá sentir o filme Cloud Atlas.

Osho diz que a ambição foi a única coisa que levou o homem a começar a contar o "tempo". "Eu quero ter isso ou aquilo" levou o homem a criar um sentido, uma direção, uma meta. Ele precisa, ele quer, chegar lá no topo da montanha, mas ele quer chegar primeiro que todos os outros. Para chegar primeiro, ele tem que ter saído primeiro, tem que ter se programado, tem que ter tido mais tempo que o outro para chegar no topo da montanha. A ambição a que Osho se refere é aquela na qual o homem só se veria completo quando chegasse no topo da montanha. E quando ele chegar lá em cima, a sensação de sucesso será tão fugáz que ele desejará ter mais, e então criará uma nova ambição à frente, e todo o sistema de tempo é criado.

Se o tempo não existe, não há que se preocupar com um futuro, ou ficar chateado com um passado. Só há o instante. Então vivemos num eterno instante, eu nessa minha dimensão, e há outros como eu em outras paralelas, todos conectados uns aos outros. Quando se esquece esse paradigma tosco, se aprende o que Soc, personagem do filme Poder Além da Vida (Peaceful Warrior, 2006), ensina:




Em Cloud Atlas, é essencial ter esta clareza, este despertar da consciência. Senão, não passará de um filme de ficção que ninguém entende. (Supondo que ficção exista, tá?) Desde muito jovem, me chegaram histórias desse tipo. Lembro que meu primeiro livro foi O Menino no Espelho, de Fernando Sabino, e nele o menino conhece sua versão de adulto, é um choque de realidades. Outro filme que explica isso muito bem, agora na visão da ciência moderna, é Interestelar (Interstellar, 2014), como o tempo é relativo, e espacial.

Uma das cenas mais simples em Cloud Atlas, se repete com frequência na série Sense8, da Netflix, ilustra bem o que é estar conectado uns aos outros: um músico está a escrever uma música, e está ensaiando-a, em seu "tempo"; a mesma música está sendo tocada num vinil antigo, em loja de discos dos anos 70; e a personagem sente que já a ouviu em outro lugar, mesmo sendo a primeira vez que a ouviu. Isso não é anedota, você e eu já passamos por esses momentos para qualquer coisa na vida. Estamos conectados a outros de nós, em vários "tempos" diferentes, pois todos estamos no instante. Naquele eterno instante.

"Tudo que imaginas, já existe."

Então quando escrevo sobre alguma história, por mais que eu ache que ela pertence à minha originalidade, na verdade, ela existe em algum lugar. As multidimensões que existem no Universo permitem que essa seja uma realidade, e como estou conectado, sintonizado a esta frequência, a maneira que me vem para traduzir essa informação é por meio da escrita. E lanço um best-seller. Ler livros é mais do que lê-los, é como minha mãe sempre me ensinou mesmo: é ler as histórias de pessoas reais, de aprender com suas experiências... Todas elas existem!

Alguém está lendo a minha história em algum lugar do Universo, e aposto que é outro best-seller, pois até agora, só me surpreendi com os acontecimentos e as pessoas que tenho conhecido e Amado. As palavras têm poder. Mande para o Universo o que quer que seja criado, e isto será. Hoje, eu entendo o meu "sonho". De fato, eu os criei. Inventar alguém é dar a chance da pessoa existir na sua vida. E nada mais. O quanto ela irá se desenvolver ou não, o quanto ela vai te reconhecer ou não, a chance de que ela de fato apareça para você (como acontece em Mais Estranho que a Ficção) ou não, isso não vale a pena pensar.

Eu já criei muitos personagens, e já fiz um deles cometer suicídio. Desde então, me decidi, sem saber deste contexto, que não mais escreveria sobre minhas tristezas. Não mais criaria medo, solidão, fúria, raiva, depressão, por meio da minha poesia. Só escreveria alegrias, sorrisos, felicidade, graça. Não faz muito tempo, "inventei" uma Clarice, que se diz ser um livro sem ter fim; não precisei ser Tomé para acreditar no que via, quando a ouvi dizendo isso.

Anos atrás, conheci uma amiga que, agora deve andar pelas bandas de Brasília, me disse assim: "As nossas vidas dariam bons livros. Cada história de uma pessoa, dá para escrever um livro." Ela tinha razão. Cada livro é uma vida, é uma linha do tempo que é trazido a você por um certo alguém, mas se veio para você, é porque era para ser para você mesmo. Não existe o acaso.

Dizer que existe o acaso é duvidar da inteligência do Absoluto.
(Víctor Lemes)

Que o seu livro seja tão bom de lê-lo, que nunca queiram chegar em seu final. (Até porque o final também não há...)


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