Outro Vinícius
(Víctor Lemes)
No meio de um livro,
Esquecido à beira da cama,
Um Vinícius, um dia,
Pôs-se a escrever uma carta
De Amor... Uma outra
À Clarice, de seus sonhos;
Ele sabia que escrevia
Por escrever, e na certeza
De que ela nunca a leria,
Dobrou as folhas e
Marcou uma página de
Um livro emprestado.
Após tê-la escrito, Vinícius
A trancou nas páginas
Daquela ficção, e não mais
Se lembrou da carta... até
O presente momento.
Agora, Vinícius tem a certeza
De que Clarice é outra Clarice,
Pois ele é outro Vinícius.
Reencontra sua carta,
Abre-a, e recita-a
À Clarice, seu Universo
(Apenas assim, esta a ouve):
"Antes de começar, Clarice,
Devo lhe dizer que
Para tudo aquilo que me dirijo
A você, ponho-me antes em
Teu lugar e reflito um tanto...
Vê, não é difícil fazer isso
Contigo, pois vejo-me em você
Por muitas vezes. Em outras,
Sinto-me um chato, de fato.
Teimo em aparecer quando
Nunca sou convidado;
E às vezes, sinto que estou
Atrapalhando tua vida...
Sinceramente, esta carta
Não tem objetivo algum
Semelhante a isto. Sou
Melhor escrevendo
Do que falando,
Embora não ouças
Minhas palavras impressas...
Enfim, fazia muito tempo
Que não escrevia uma carta
De Amor. E não sei como
Deverá ser sua reação
Ao lê-la. Não sei pois
Nunca me deixaram saber
Que eu era amado por
Alguém por meio de uma.
Desconfio às vezes
Se realmente não houve
Alguém que me amasse,
Tenho mais certeza
De que a tolice
De ter medo de não contar-me
Foi a razão de nunca
As ter recebido...
Acho que nunca fui
Tão sincero com alguém,
Clarice. Virou um tanto
Clichê, mas falar para você
É como falar para mim.
Devo ser honesto:
Desde aquele encontro
Na copa da árvore,
Deixou-me super feliz.
Quando caí daqueles
Galhos, não havia caído
Apenas deles, mas também
O Amor caiu de mim.
Seu olhar profundo foi
O que mais me atraiu,
E suspeitei desde sempre
Quão escorpiana tu parecias.
Pensei ter encontrado mais uma
De minha gente...
Seu sonho te aguarda agora
À tua frente. Encontrei-te e
Agora vai-te para longe,
E não sei se voltará algum
Dia... Não te amo menos por isso.
Os humanos se sentiriam tristes
Em meu lugar, porque achariam
Que a perderiam enquanto
Distante estivésseis deles.
Ver-te livre é ver-me feliz.
Tu não és um prêmio meu,
És um reflexo meu.
E por ser assim,
Me tens por completo,
E de certa forma,
Te completo...
Quero agradecer-te por existir
Como agradeci a outra escorpiana,
Pois, por seu intermédio, despertei
Algo novo em mim. Te agradeço
Por ser, no mínimo,
Minha inspiração.
Se souber ler minhas entrelinhas,
Vai se encontrar em cada poema
De meus livros. Este será sempre
Meu jeito de estar próximo...
Ao contrário de outros,
Não consegui roubar-te
Nem mesmo um beijo seu,
Para que pudesse levar-te
Sempre na boca;
Ao contrário de outros,
Consegui roubar-te
A alma, que mais vale
Que mil beijos e abraços
Que nunca tive seus,
Mas que fazem vibrar
Cada célula de minha nave
Em ritmo de agitação
Do meu grande coração...
Você e aquilo que sinto são
Meu presente que carrego
Aqui dentro, desde sempre.
Espero que disso nunca duvide...
De maneira abrupta encerro
Esta carta para outra Clarice,
Lhe desejando que a sinta,
Não a leia apenas..."
Assinado:
Outro Vinícius.
Dezembro de
Dois mil e quinze.
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