A Volta

(Víctor Lemes)



Debruçado à janela se encontra
Meu reflexo, a observar os passos
Que deixei na estrada de terra
Em frente à sua morada

Parti sem ter olhado uma vez sequer
Para os pedregulhos do chão
Isto foi o que menti para o coração
Mas, na verdade, meu medo fez-me vacilar

E, por vezes, fiz dos meus erros
Falsos acertos, esperando que alguns anjos
Disfarçados de pedaços de vidros coloridos
Viesse ao meu socorro, afinal,

Ouvi suas badaladas como um sinal
Me convidando a passar a noite
Na catedral, e por lá sentir
O quão distante escolhi do meu eu ficar

Dormia na frente das tabernas
Que após ter me deixado naquela janela
Não ousei mais entrar

E escrevia em pedaços de papéis velhos
Como se quisesse manter-me no passado
De quando eu era feliz

Anos se passaram nessa solitude
Caminhando sem alguma direção aparente
Fui parar numa estação de trens
Que vem e vão

Como um pêndulo me senti diante deles
E sem querer embarquei num dos vagões
Mesmo sem saber que naqueles trilhos
Meu reflexo também voltava para mim

E então, desembarquei pronto para um passeio
Esperando que fosse breve minha passagem
E no coração eu sabia, que naquela viagem

Me acompanharam dois dos anjos
Que um cavaleiro que ouvi falar
Dizia aprisionados em meu olhar

O primeiro me veio como o Vento
O segundo me veio como o Fogo

Sinto que agora
Estou a voltar
Para Casa.

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