Carta aos 30


Há duas possibilidades, na minha humilde opinião, do que pode acontecer após o resultado dessas eleições. Todavia, antes de começar a explicá-las, é importante ressaltar que agora não é mais o momento de ficarmos remoendo o que era pra ter sido feito nos governos FHC, Lula, e Dilma, porque já foi; eu gosto de assistir Fórmula 1, e após um dos pilotos, Lewis Hamilton, ter perdido uma corrida por estratégia errada na troca de pneus por parte da equipe, ele foi indagado o que poderia ter sido feito, e eu gostei de como ele pensa: “sempre depois da corrida, a gente consegue ver o que poderia ter sido feito, mas agora já acabou e não tem mais o que fazer; é preciso que a gente se lembre disso, para evitar essa estratégia em situações similares na próxima corrida”. Ficar remoendo coisas de algo que já foi é perda de tempo. Todos sabemos que determinado presidente devia ter feito isso ou aquilo, se não o fez, não era de interesse dele, oras. Vamos pegar o que restou do Brasil e tentar algo novo, não esse repeteco que entra partido, sai partido, mas o conservadorismo se mantém, só mudam os vasos, mas o adubo é o mesmo.

Existe a possibilidade de o Bolsonaro vencer essas eleições, e legitimar a violência, o racismo, o sexismo, o especismo. O militarismo vai ser instaurado, mesmo que maqueado eles estarão no poder novamente. Voltaremos 40 ou 50 anos atrás, e muita gente vai ser perdida nesse processo. Ricos e pobres vão cair no mesmo poço, quem puder sair do país sai e vive uma vida tranquila em outro lugar, enquanto o pessoal morre aqui mesmo. Viveremos um novo 1964. Nossa história será reescrita com as cinzas do museu. Aqueles que acreditam no discurso do ódio, e são fascistas por escolha irracional, estarão livres. As ondas de estupro vão aumentar, já que com arma na mão é muito mais fácil fazer valer sua libertinagem. A cultura colorida dos LGBT não terá mais do que a cor vermelho-sangue para pintar por aí. Ai de quem for mulher, negra, e lésbica. Está morta e fodida logo no primeiro substantivo: “mulher”. Como ninguém de nós pudemos estudar o que foi uma ditadura na escola, o mundo vai se encarregar de nos fazer passar por mais uma pra ver se a gente aprende dessa vez. Vamos ter que aprender a viver no medo de não saber até quando vamos sobreviver.

É possível que o Haddad vença essas eleições. E os militares deem um golpe para assumir o poder, visto que eles já disseram: com Bolsonaro, a gente entra; se Bolsonaro perder, a gente não aceita. Se isso acontecer, a mesma violência vai brotar como dito ali em cima, e podemos ter o que o Bolsonaro sempre foi a favor: uma guerra civil. Mas, meu amigo, não é como nos cinemas ou nos quadrinhos… uma guerra civil não tem Capitão América versus Homem de Ferro, nem tem ajuda de Homem-Aranha. Em uma guerra civil, como qualquer tipo de guerra, quem perde é o povo. Como diz Cortella, em uma guerra civil não há vencedores ou perdedores; há sobreviventes. O maior erro dos meus conhecidos ou colegas é que eles acham que exista ficção. Eles acham que o que é ficção não existe, é inventado, nunca vai acontecer… Me diziam que eu lia George Orwell e Aldous Huxley demais; que eu estava jogando Deus Ex demais. Contudo, convido-os a ler Admirável Mundo Novo e 1984 agora, antes que seja tarde… demais.

Com a máxima que aprendi do meu Mestre, começo aqui minha conclusão: o Pai não erra. E se assim é, então todo esse caos que vai vir logo a partir de novembro de 2018, não será em vão. Olhando por cima do tabuleiro de xadrez, é possível ver que há uma única coisa a ser aprendida por todos nós, de esquerda ou de direita ou neutros ou antipetistas ou bolsominions: a unidade. No meio de toda a desgraça que nos aguarda, vamos ter que aprender que não somos uma tribo. Não pertencemos a um sexo. Não somos de um time. Não vai importar em quem você votou ou deixou de votar. Todos somos humanos. Esse caos que já está entre nós vem para nos alertar essa máxima. Somos HUMANOS. E qualquer coisa que fira o direito de ser humano, não vai poder existir mais.

Eu voto no Haddad. Sou contra o Bolsonaro, e contra quem pensa que legitimar o ódio e a autoridade vai resolver qualquer coisa em qualquer lugar. Não sou contra as pessoas que votam no Bolsonaro, no fundo tenho pena delas, porque ainda não descobriram o valor de ser plural. De ser, como as Wachowski nos mostraram em Sense8, nós. Quando se pensa acima do umbigo, ou seja, quando se pensa com o coração, não há como desejar a violência ou acreditar num discurso fraco como o de Bolsonaro. Enquanto alimentam o medo, não permitem a Luz invadir suas consciências. Mas eles terão o tempo deles, uma vez que eu lute para que eles tenham essa possibilidade. Por isso voto pela democracia. Voto pelo direito de quem for contra, ainda possa ser contra sem ter que ser torturado, morto e despedaçado por isso.

Quem vê meu Facebook ou Instagram, ou que conversa comigo pelo WhatsApp ou Telegram, vai ver que eu tento não pensar muito nisso… Tento desviar minha atenção com coisas fúteis como minha mãe me ensina, como assistir Netflix, ou jogar Tales of Xillia 2, ou repostar memes, ou ser nasty com os amigos da arquibancada (essa última, só 12 pessoas entenderão), no entanto, faço tudo isso para conseguir dormir de noite. Quando é 1:00 da manhã ou 2:00, estou pegando no sono, e acordo entre 7 ou 8 da manhã, esperando que eu não pense muito nisso. Mas sabe… é impossível se abster das coisas que acontecem, porque como bem cantou Renato Russo: “quando se aprender a amar, o mundo passa a ser seu”.

Então, meus amigos e conhecidos, e àqueles que excluí e provavelmente vou excluir no futuro, estas são minhas crenças, e como minha intuição não costuma mais errar, sinto que boa parte disso vai acontecer mesmo… estou com vocês todos que se consideram humanos. E como ativista que sou, não posso me calar com as injustiças. Vou lutar pelos fracos que não tem voz, não tem alimentos, não tem opiniões, nem consciência ainda. E se eu tiver que morrer por isso, não se preocupem com isso, pois a morte não é o fim. E tenho certeza que os verei todos em breve, seja aqui ou acolá. Na verdade, como disse antes: eu sou nós.

Pela vida!

P.S.: Aproveitem o resto do ano, façam aquilo que mais querem fazer, leiam os livros, ouçam as músicas, assistam os filmes, aproveitem bem. Logo nos restaram apenas as memórias.

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