Guardiã

(Víctor Lemes)


Tive um sonho, e gostaria de compartilhar o que vi e vivi. Estava eu em uma espécie de parque, daqueles gigantes, cheios de verde e lagos por todos os lados. Era possível ver os gansos, e os cães das famílias que ali vagavam. Estava acompanhado ou acompanhava alguém, e esta pessoa me guiava por entre os gramados e as árvores, me conduzia, a pequenas passadas, pelos cantos imaginários que um ambiente como aquele teria. Tudo era novo para mim. Observava com curiosidade tudo ao meu redor, principalmente as crianças. Foi num desses momentos que topei com uma delas. Ela cruzou meu caminho em uma corrida de brincadeira (ou fora eu que havia cruzado seu caminho?). Era linda: deveria ter uns oito ou nove anos, tinha cabelos claros curtos, talvez louros; um par de olhos claros, e um sorriso com uma janela inocente na parte frontal, faltava-lhe um dente. Então, olhei para a pessoa que me acompanhava, dei uma piscadela de cumplicidade com meu olho direito, e me virei para a menina. Flexionei meus joelhos, e de cócoras, agachei em posição de sapo, para que eu ficasse na altura dos seus olhos. Ela tinha uma voz (como explicar?)... Não dá, espero que possam conhecê-la um dia, e entenderão quão bonita era ela. Tudo que posso dizer é que, devido à janela frontal de sua boca, era possível ver sua língua como quem fala com a língua presa.

- Qual é o seu nome, moço?
- Víctor. E o seu?
- Você acredita em anjos?
- Claro! Você não?
- Não sei, nunca vi um...
- Impossível! - Perdi o equilíbrio e caí no gramado.
- É verdade! - Ela riu da minha queda.
- Veja só, ao redor de nós três. Há muitos deles aqui agora...
- Onde?!
- Ali. E ali. E ali atrás, do lado daquele cãozinho, consegue vê-los?
- Ah... É! É verdade! Consigo vê-los...
- Moço... Você já viu o Papai Noel?
- Costumava vê-lo todo os anos...
- Não vê ele mais?
- Não...
- Por quê??
- Porque, meu pequeno anjo, eu deixei de acreditar nele.
- Não entendi...
- Preste atenção, pequenina: você acredita que eu existo?
- Sim!
- Obrigado! Por isso estou aqui conversando com você. Porque você aceita minha existência, você acredita em mim, e assim, existo na sua vida. Acredite em anjos, e conseguirá vê-los. Acredite no que quiser acreditar, e reconhecerá a existência deles. Por isso tenha cuidado no que acredita.
- Hum... Acho que entendi... Mas, tio... Se não acreditar no Papai Noel, ele não vai te trazer presente...
- Verdade... Vou passar a acreditar nele de novo, pelo presente adiantado que ele me deu!
- Ué! E o que ele te deu??
- Me deu a chance de conversar com um anjo.




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