(Víctor Lemes)


         Sentara no banco de trás do carro que, em alta velocidade, cruzava a avenida central. Pegou sua blusa, "dobrou-a" daquele jeito de menino-relaxado, e deitou-se, se esticando por todo o banco.
         Sua cabeça a olhar o céu através do vidro. Via nuvens, via aviões, via helicópteros, via outros carros, via árvores poucas, via quase tudo, em manchas.
         Até que o carro em que estava ficou paralelo a um ônibus. E pôde ver uma menina em uma das janelas. Com as mãos segurando a cabeça e os cabelos, encostado o olhar no vidro. Talvez tivesse podido ver o mesmo que ele tinha visto. Não entendia o cansaço naqueles olhos da menina, e teve a simples e fugaz idéia: com o dedo indicador, cutucava o vidro do banco de trás. Enquanto fazia marcas de suas digitais, mexia a boca como quando quem fala sem falar; e pronunciava um "Ei!", ou "Olha aqui!".
         Seu pai já ia acelerando, e em pouco tempo, teria ultrapassado aquele ônibus. Como resposta à possível, e única, pergunta proferida dos lábios daquela garota ("Mas como?"), ele pegou o travesseiro, e apontando-o, disse movendo os lábios vagarosamente: "Assim!"; Logo, voltava a cochilar no banco de trás.

Comentários

  1. Encantador, simplesmente encantador! *-*
    Não pude deixar de sorrir ao ler essa resposta ao "Compram-se asas".
    Agora, pelo menos a garota já tem a resposta para sua pergunta...

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  2. (:

    Não perguntas sem respostas...

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