Levo-te

(Víctor Lemes)


Rezo:
Eis meu método de jogar as palavras ao vento,
E se deixar levar...
Não sei para onde elas vão,
Mas, de certo, chegam algum lugar.
Chego na beirada do precipício,
Esgueirando-me  posso lançar meu olhar abaixo:
Estou quase lá, penso.
Não é preciso muita coragem para fazer o que é preciso ser feito,
E mesmo contra todas as hipóteses e esperanças,
Fecho meus olhos e choro diante tamanho absurdo.
Ao contrário dos que pensam demais, e nada fazem,
Não corri, nem tomei distância:
Dei mais um passo à frente, apenas.
E caí.
Caí daquela montanha, daquele problema,
E os que me viram despencar, lá em baixo disseram:
"Olhe só! Talvez seja o Pedro!"
Senti o solo afagar-me os ossos,
E naquele instante eterno de um segundo,
Me vi em pedaços no fundo de um poço.
Finalmente havia chegado,
O fundo foste meu único legado.

Num domingo, como esperado,
Neste quatro de setembro
Cá estou só,
Montando meu próprio quebra-cabeça,
Juntando os pedaços de mim mesmo
Que tanto ansiei estraçalhar-me quando
Ao fundo daqui chegaste.

Há quem chegue neste verso e derrame algumas lágrimas.
Mas, entenda: isso foi o que eu quis que fosse.
E nada do que pensares, nada do que disseres, pode
Sequer
Traduzir o que eu sinto, ou o que quis com isso sentir.
Só, como quero estar agora por um tempo,
Me deixe,
E não se preocupe, minha luz é forte, mesmo que esteja
Agora apenas um feixe...

Eu te amo.

Comentários

  1. O amor é uma flor delicada, mas é preciso ter coragem de ir colhê-la à beira de um precipício.
    Eis a vantagem de ser um louco. E somente um louco compreende o outro

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