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importante.

(Víctor Lemes) Embora, sim, é o que queria Ao ver-me em pranto Só com a solidão aqui dentro, E um mundo inteiro a esperar lá fora. Um fardo carrego, das chuvas Que não se derramaram, Quando abraço meu corpo magro Por debaixo das águas do chuveiro. Podes não entender Mas não podereis deixar De acreditar no que te "sinto". Não mais te escrevo, Te sinto, e aqui mesmo ou Noutra hora, existes e não estás.

Desejo

(Víctor Lemes) Tenho um desejo E por assim sê-lo sei Que me levará ao erro, Mas queria tanto que soubesse. Declarar-me-ia culpado Por amá-la sem ter pedido Permissão alguma. Um dia sei que sentirá Todo esse sentimento, Que hoje permanece oculto, Pois temo sua partida. Pra mim, agora, apenas Me dou por satisfeito Ser ouvido e poder ouvi-la.

Embora

(Víctor Lemes) Embora haja na vida Algo de mim em toda parte, Busco sua presença Como a beleza busca a arte. Ainda que haja entre nós A distância eterna de uma rua, Torno-me um com versos próximos E faço de cada sílaba minha sua. Conquanto haja em mim Parte de você como memória, Continuo vivendo sem o fim Querer em minha história.

Onda

(Víctor Lemes) Como a planta que cisma Nascer no meio das rachaduras Do asfalto, com cimento E concreto adjacentes, Eu também busco existir Na vida dos outros. Nasço e ali permaneço. Como a beleza que nasce Na flor, e só na flor existe, Só existe beleza enquanto Houver sua existência. Se colhê-la do solo, Morrerá em suas mãos. Da mesma maneira, existo. Como um eterno reflexo Eu quero ser seu, e só assim Quero que você me tenha. Cada lágrima sua, cada sorriso, Cada passo seu, cada palavra, Será minha, meu, meu, e minha. Basta-me ser, do seu oceano, a onda.

Invento

(Víctor Lemes) Às vezes, enquanto caminho, Invento-me. Imagino eu junto com você, Imagino eu longe de você, Imagino eu sem existir mais, Imagino eu sem você existir. Às vezes, perco meu tempo, Inventando-me. E se eu fosse assim? E se eu não tivesse isso? E se eu não fosse seu filho? E se eu me encontrasse de tal jeito? Às vezes, fico assim trêmulo, Ventando-me. Sei que você e o vento São partes do mesmo espírito, E por isso, não me importo De passar frio quando as rajadas Suas me acertam o corpo. Ninguém consegue segurar o vento, Não foi feito pra ficar preso, Ninguém sabe quem o fez nascer Mas eu sei de uma coisa: O vento nasceu do suspiro Da minha vida, quando satisfeita. Sentou-se no degrau de entrada De sua casa, e ficou feliz com tudo Que criara.

Ancorado

(Víctor Lemes) Num vasto oceano Ancorado me encontro, De engano em engano Tento velejar meu barco. Uma hora isso acaba E eu posso navegar Só ou acompanhado, Se quiser vir comigo. Enquanto espero a minha vez Fico observando as estrelas, Esperando que, ao menos, Uma dela me guiem pra fora. Estou cansado das mesmas marolas, Permanente assim prefiro me afogar.
(Víctor Lemes) Não me interessa Ser um número, Se não puder ser inteiro.