Sonetos à uma Estrela (Víctor Lemes) Na dúvida, ou na certeza, é bom que saiba: Estou sempre desse lado do mapa. Um par de olhos atentos atrás destes óculos, A observam como dois gatos curiosos. Não importa qual altura você voe, Nem tão profundo seja o mar de sonhos que nade, Meu privilégio será sempre o mesmo. Eu a vejo, com meu binóculo. Quem a conhece a quer sempre perto. Porém, são poucos os que dão valor a isso, Não conhecem a angústia que sinto... Deve ser algum castigo divino Que me fez assim, de você tão distante. A todo tempo lhe perguntam "por que some?" * Como vivo em sua ausência, Escrever versos incertos é tudo que aguenta Este meu coração sedento por sua presença. Minha frustração, sem rebuliços, a tudo arrebenta. E quando está a passear lá fora, Rogo a um dos quatro ventos para que lhe abrace. Quando estou só, a caminhar, ele me acalma; Traz consigo aquilo que me faz sorrir: seu perfume. E, todas as noites, torço para que o céu E...
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Mostrando postagens de dezembro, 2010
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Uma alusão boba sobre Portinari (Víctor Lemes) Uma pequena garota parada no meio do nada, frustrada talvez, triste talvez, feliz quem sabe; a observar um pequeno balão vermelho que, aos olhos de quem realmente sabe ver, parece ser um coração querido. Enquanto este é levado pelo vento, ela se recorda daquela canção, uma vez ouvida no rádio de sua humilde biblioteca particular, também chamado quarto, a qual dizia algo assim: "Que vento idiota, soprando toda vez que move sua boca, soprando, e descendo as ruas em direção sul." Nesse momento, eu, aquele somente observa, me lembro de uma cena semelhante. Há um bando de negras aves, ciscando entre as areais da praia, enquanto um navio rumo ao horizonte vai navegando. Um menino, de botas marrom, e roupa toda azul, está a empinar sua pipa vermelha, nos céus nublados, e acompanhados por três, talvez uma, talvez seis aves negras. Para meus olhos, o carretel de linh...
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Soneto aos Seres-Vivos (Víctor Lemes) Há um desejo que transborda, Neste meu copo que é chamado corpo. Há uma vontade plena, uma dor aguda, De lhe dizer que tão bem a quero toda. Há uma secura nos meus lábios Por não poder sussurrar-lhe nos ouvidos, Essas palavras, estes seres-vivos Que nascem para traduzir o que por ti sinto. Há um clima tão quente e bonito, Lá fora tudo é sorriso. Tudo é tão colorido... Há um sonho tão belo e querido, Tu estás nele, como também és ele. Deixaste-me feliz, em apenas ter-te conhecido...
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RE: Compram-se asas (Víctor Lemes) Sentara no banco de trás do carro que, em alta velocidade, cruzava a avenida central. Pegou sua blusa, "dobrou-a" daquele jeito de menino-relaxado, e deitou-se, se esticando por todo o banco. Sua cabeça a olhar o céu através do vidro. Via nuvens, via aviões, via helicópteros, via outros carros, via árvores poucas, via quase tudo, em manchas. Até que o carro em que estava ficou paralelo a um ônibus. E pôde ver uma menina em uma das janelas. Com as mãos segurando a cabeça e os cabelos, encostado o olhar no vidro. Talvez tivesse podido ver o mesmo que ele tinha visto. Não entendia o cansaço naqueles olhos da menina, e teve a simples e fugaz idéia: com o dedo indicador, cutucava o vidro do banco de trás. Enquanto fazia marcas de suas digitais, mexia a boca como quando quem fala sem falar; e pronunciava um "Ei!", ou "Olha aqui!". ...
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A Água e o Ar (Víctor Lemes) Existe uma linha tênue Entre a tua face e a tua pele. Há entre nós uma ladeira bem íngrime, Pedras de argila nos divide feito parede. As palavras nos consomem, Nos trazem prazeres de outros ausentes. As palavras nos separam por nos unir, Sejamos mudos, estejamos calados; é hora de ir. Que as músicas nos torne especiais, Que suas letras e canções nos torne Imortais. Com você pude provar do amor impossível Algo novo, aprazível, porém passível Demais. * Nos trombamos por aí, numa rua sem luzes, Sem postes, sem carros, sem estradas. Nos amamos em algum lugar de outrora, Abrimos outra porta. Não há medo, não há frustração, não há rancor. Meu coração é mais pleno, mais limpo, Depois de tê-la (re)encontrado, Depois de tanto tempo. Há em nós uma luz que ainda Há de nos unir, eu sei. Falta tão pouco agora... Espera-me naquela janela Onde nos prometemos um ao outro. Você já é parte de mim, mesmo que de mim parta.
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A montanha da melancolia (Víctor Lemes) Aqui na montanha Da melancolia A vontade é tamanha Por companhia. No topo da montanha Da melancolia, Queria ser aranha Que só ainda tem alegria. Subi a montanha Sem perceber que o fiz, Te procurei, e não a vi. Lá na montanha, Rabisquei as pedras com giz, Te desenhei, te escrevi, dentro de mim.
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Soneto à Dona Morte (Víctor Lemes) Estou aqui parado Encostado neste poste, E num momento Passa por mim a Morte. E não só passa Como também sorri. Ironia tamanha aquela, Só ela traz dentro de si. Ah! Que vontade a minha De me aventurar neste breu, E esquecer quem sou eu... Pára, Morte! Tu não és má, Eu bem sei... Diga-me quem és meu. "Ela está aguardando o retorno teu."
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Passado simples (Víctor Lemes) Entrei. Vaguei por longos corredores. Encontrei. Um imenso jardim de flores. Admirei. A beleza tanto delas como a tua. Senti. A brisa suave que vinha da rua. Sentei. Como se tivesse sido obrigado. Deitei. Minha cabeça em teu colo. Fitei. Teu queixo, tua boca, teus olhos. Cheguei. Estive muito perto de ti. Abracei. Sem tocar-te o corpo. Sorri. Pelo simples prazer de estar ali. Aqueci. Teu coração junto ao meu. Entreguei. Tudo, agora, é teu. Inspirei. O perfume das flores. Expirei. O ar mágico que delas provei. Resisti. Não queria que acabasse. Existi. Fui, e não voltei.